A ascensão das plataformas digitais democratizou a transmissão e aproximou os fãs das modalidades esportivas durante todo o ciclo olímpico para Paris 2024

Por Beatriz Riscado

O crescimento de canais de streaming vêm diversificando a oferta de programas esportivos dedicados a modalidades que viveram à sombra do futebol, nas grades das TVs abertas brasileiras. Canal Olímpico do Brasil, Cazé TV e Canal Brasil Judô são alguns dos novos competidores deste mercado, que tem um potencial de crescimento explosivo nos próximos anos.  Para isso, apostam numa cobertura do esporte ao longo de todo o ciclo olímpico e não apenas durante os Jogos, criando uma conexão mais próxima entre atletas e fãs e proporcionando uma experiência mais personalizada.

Diferentemente das grandes emissoras, que dedicam sua cota olímpica quase exclusivamente aos Jogos Olímpicos a cada quatro anos, a internet vem se mostrando um campo fértil para a divulgação das modalidades que compõem o maior evento multiesportivo do planeta. Plataformas de streaming, redes sociais e canais especializados se tornaram aliados fundamentais na disseminação do conteúdo esportivo, oferecendo uma programação diversificada e acessível. É o caso do Canal Olímpico do Brasil, plataforma oficial de transmissões do Comitê Olímpico do Brasil (COB), que vem ganhando muito espaço na divulgação do movimento esportivo nacional.

“O Canal existe para dar visibilidade às modalidades olímpicas que nem sempre conseguem espaço nas grades de TV aberta. A gente vê uma preferência pelo futebol aqui no Brasil, e isso impacta diretamente os outros esportes. Temos os Jogos Olímpicos passando em rede nacional a cada quatro anos, mas o ciclo de preparação dos nossos atletas e as competições que eles disputam dentro desse período acabam não sendo mostradas e atingindo o público. O Marcus D’Almeida, por exemplo, foi campeão de uma Copa do Mundo de tiro com arco na última semana. Então o objetivo do Canal é justamente dar visibilidade e divulgar o movimento olímpico brasileiro, que é muito rico”, contou Helena Rebello, Coordenadora de Comunicação do COB.

O Canal Olímpico do Brasil surgiu no final de 2020 em parceria com a TV NSports, que já vinha conquistando certo espaço no streaming esportivo nacional. Em praticamente dois anos e meio de atividade, juntos transmitiram 48 modalidades, alcançaram cerca de 270 mil inscritos em sua plataforma e somaram mais de oito milhões de minutos assistidos. Além disso, segundo Helena, o Canal tem planos de exibir mais 90 eventos em 2023, somando quase 300 transmissões ao vivo.

“Algumas modalidades são transmitidas durante o ciclo olímpico, mas normalmente em canais com assinatura paga. O diferencial do Canal Olímpico do Brasil é trazer essas competições nacionais e internacionais de forma gratuita para o público. Queremos democratizar cada vez mais o acesso ao esporte olímpico, tanto que além da nossa plataforma, agora também estamos começando a levar as transmissões para o YouTube. Desde que cheguei ao COB, há um ano, conseguimos uma base de praticamente 100 mil inscritos no Canal. Isso em um ano não-olímpico. Nós não nos importamos em compartilhar o sinal com as confederações ou em transmitir o evento em duas plataformas diferentes, separando a audiência. Nosso intuito é dar a visibilidade que o esporte olímpico precisa ter”, disse Helena.

Foto: Lara Monsores/CBJ

A grade do Canal Olímpico do Brasil oferece a transmissão de ao menos um evento por ano, sem custo algum, às Confederações Brasileiras Olímpicas e, ainda, importa a aquisição de direitos de circuitos internacionais.  Entre uma edição de Jogos Olímpicos e outra, a cada quatro anos, existem etapas classificatórias e competições multiesportivas continentais, onde o Brasil participa, que não são transmitidas na televisão aberta ou fechada. Para Helena, isso faz com que o público chegue às olimpíadas sem conhecer os atletas ou entender a modalidade que ele disputa.

“Se não fosse pelo Canal Olímpico, os Jogos Sul-Americanos de Assunção, no ano passado, não teriam nenhuma transmissão no Brasil, seja na internet ou na TV. Neste mesmo período nós também transmitimos os Jogos da Juventude, que é um evento do COB para jovens de até 17 anos. Acho que além de dar acesso ao público, essas iniciativas também atingem os pais, os familiares e os treinadores dos atletas, que muitas vezes não conseguem se deslocar para os locais das competições e querem de alguma forma estar presentes”, opinou.

Foto: Alexandre Castello Branco/COB

A internet tem se mostrado uma plataforma inclusiva, rompendo barreiras geográficas e econômicas. Ao contrário da televisão, que muitas vezes restringe a transmissão de competições a determinadas regiões ou pacotes de assinatura, o streaming possibilita que qualquer pessoa, em qualquer lugar do país, tenha acesso ao conteúdo esportivo. Isso é especialmente relevante para as modalidades olímpicas menos populares, que encontram na internet um espaço para serem reconhecidas e apreciadas por um público maior e diversificado.

Neste contexto de alcançar um público diferente, o COB anunciou, no início de fevereiro, uma parceria com a Cazé TV, plataforma de transmissões ao vivo do streamer, influenciador digital e jornalista Casimiro. Ele soma mais de quinze milhões de seguidores nas redes sociais e, com um público repleto de fãs de futebol, o esporte mais popular do Brasil, surgiu a oportunidade perfeita para divulgar o movimento olímpico.

“A parceria com a Cazé TV começou com eles sendo ‘madrinhas’ do COB. Nós temos uma campanha onde convidamos algumas personalidades do entretenimento brasileiro para apadrinhar o movimento olímpico e, consequentemente, ajudar a atrair públicos de outros nichos para o esporte. Nessa campanha, já temos alguns nomes como Larissa Manoela, Pedro Scooby, Wesley Safadão, Murilo Rosa e Fernanda Tavares. O Casimiro é um fenômeno da internet e dialoga principalmente com um público jovem e engajado, tendo milhões de seguidores e visualizações. Ele e toda equipe são maravilhosos e nós temos muitas novidades vindo por aí”, disse Helena.

A Cazé TV evoluiu de madrinha para parceira oficial do Comitê Olímpico do Brasil, passando a também transmitir competições nacionais e internacionais em seu canal do YouTube e a divulgá-las nas redes sociais. Além disso, a presença da equipe está confirmada nos Jogos Olímpicos de Paris, em 2024, e nos Jogos Pan-Americanos de Santiago, em outubro. Para esta última, a Cazé TV anunciou na última semana que adquiriu os direitos de transmissão ao vivo em todo o Brasil.

“O primeiro compromisso dessa parceria com a Cazé TV foi o Campeonato Mundial de Judô, no início de maio, e nós temos mais alguns eventos chegando. Tem as demais etapas do Circuito Mundial de Judô e o Troféu Brasil de Natação, por exemplo, que eles vão transmitir no YouTube e na Twitch”, completou Helena.

Além do Canal Olímpico do Brasil, diversas Confederações têm investido de forma independente nas transmissões ao vivo das competições nacionais de seu calendário, usando principalmente plataformas gratuitas como o YouTube. A Confederação Brasileira de Judô (CBJ), por exemplo, soma quase 26 mil inscritos no Canal Brasil Judô e, desde a metade de 2022, quando começou a adotar oficialmente a prática, passou de 1,5 milhão de visualizações. A iniciativa começou durante a pandemia de covid-19, onde “aulões” com atletas e treinadores foram transmitidos, e evoluiu para a área das competições nacionais.

“Acho que, se a pandemia teve algum efeito ‘positivo’ para a gente, foi esse. Naquele período de isolamento, de paralisação do nosso calendário e de todas as atividades presenciais, encontramos no ambiente virtual a possibilidade de manter a comunidade do judô ativa e conectada com o esporte. Depois, com a reabertura, as competições voltaram a acontecer presencialmente, mas com protocolos que impediram a presença do público nos ginásios. Esse foi o grande motor propulsor da nossa estratégia de streaming. Levar o judô até os fãs em um momento que os fãs não podiam ir até o judô. Hoje, é inimaginável fazer qualquer evento esportivo sem o serviço de streaming, do mais simples ao mais caro”, contou Lara Monsores, Assessora de Comunicação da CBJ.

Foto: Arquivo pessoal

Segundo dados da Confederação, o Canal Brasil Judô exibiu até o momento dezessete eventos nacionais e fez mais de 140 transmissões ao vivo, já que certas competições podem ter até seis áreas simultâneas de combate. O plano é seguir assim com os demais nove eventos previstos no calendário nacional até o final de 2023 e seguir com melhorias para os próximos anos.

“O futuro é entender essa ferramenta não só como plataforma de comunicação, mas como geração de receita. Como monetizar as transmissões é o grande desafio de todos os players que estão nesse mercado. Na CBJ, especialmente, acredito que ainda exista outro desafio que é o de envelopar a competição como um produto de entretenimento para streaming, com programação e regulamento. A visão técnica ainda prevalece sobre a necessidade de um produto voltado para entretenimento também. A Federação Internacional de Judô já nos mostrou um caminho interessante com a plataforma JudoTV.com e pode ser uma referência para o nosso futuro, adaptando alguns pontos à nossa realidade”, concluiu Lara.

O Canal Olímpico do Brasil também já transmitiu competições nacionais de judô.
Foto: Beatriz Riscado/CBJ
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