De acordo com pesquisa denominada ‘O Maior Raio X do Torcedor’, 56% são a favor da contratação de um treinador estrangeiro 

Por Felipe Teófilo

O anúncio de que Tite deixaria o comando da amarelinha após a Copa do Mundo, ainda em 2022, acendeu um duplo debate entre os torcedores. Além de discutirem quem seria o novo técnico da Seleção Brasileira masculina de futebol, muitos se perguntam: é aceitável confiar a um treinador estrangeiro o comando da seleção canarinho?

Mais de um ano depois da decisão de Tite, ainda não temos um treinador, ainda que exista muita especulação. Dentre os mais citados estão alguns estrangeiros: os portugueses Jorge Jesus e Abel Ferreira, os brasileiros Dorival Júnior e Fernando Diniz, e o favorito da diretoria, o italiano Carlo Ancelotti. Pelo teor das notícias, é difícil que o novo comandante não saia desses nomes. 

Na história da Seleção Brasileira de futebol masculino, três treinadores estrangeiros já estiveram na beira do campo comandando a equipe. O primeiro, o uruguaio Ramón Platero, comandou a seleção durante o Sul-americano de 1925. Quase 20 anos depois, o português Joreca comandou a amarelinha por dois jogos, em 1944. O último foi o argentino Filpo Nunez, em 1965, que comandou a seleção brasileira, na época representada apenas por jogadores do Palmeiras, no festival de abertura do estádio Mineirão. 

De lá pra cá, são quase 60 anos sob o comando de técnicos brasileiros, mas de tempos em tempos o debate volta. Em 2014, após a humilhação sofrida na derrota para a Alemanha por 7 a 1 em casa, o que praticamente expulsou Luis Felipe Scolari do cargo de treinador, o GE fez uma pesquisa em seu site que questionava o torcedor: Você aprovaria um técnico estrangeiro no comando da Seleção Brasileira?. Na época, o ‘sim’ venceu com 77,3% dos votos. Contudo, a voz do povo não foi a voz de Deus e Dunga foi anunciado como técnico do Brasil, em setembro daquele ano. 

Entretanto, o debate, novamente, voltou, e quem o trouxe de volta foi um português, em 2019, no comando do Flamengo. Jorge Jesus desembarcou no Rio de Janeiro e fez história no futebol brasileiro. Na época, muito se comentava sobre os técnicos brasileiros estarem ultrapassados, os clubes do Brasileirão faziam rodízios de treinadores e a criatividade na escolha de um comandante costumava ser baixa. Com isso, o Flamengo pensou fora de caixa e acertou. Naquele ano, sob o comando do português, o time da Gávea disputou 40 partidas, venceu 28, empatou 8 e amargou apenas 4 derrotas, o que rendeu a conquista da Taça Libertadores da América e do Campeonato Brasileiro. Além disso, foram 89 gols marcados, uma média de 2,22 gols por jogo. 

A partir disso, ocorreu uma virada de chave no Brasileirão. Os treinadores estrangeiros ficaram cada vez mais em evidência, fazendo os clubes se arriscarem no mercado externo. Em 2023, dos 20 clubes da Série A, 9 possuem estrangeiros no comando da equipe. Assim, mais uma vez surge o questionamento: os técnicos brasileiros estão ultrapassados?. Ícaro Caldas,famoso nas redes sociais por conta de suas análises sobre o Brasileirão, não acredita nessa suposta superioridade tática dos técnicos estrangeiros. 

“Existem treinadores brasileiros e estrangeiros que colecionam bons trabalhos, assim como existem brasileiros e estrangeiros com trabalhos ruins. A mídia criada em cima do Jorge Jesus e do Abel Ferreira colabora para esse pensamento, mas no Brasil temos excelentes nomes como Fernando Diniz e Dorival Jr “, comenta.

Em 2026, o Brasil completará 24 anos sem vencer uma Copa do Mundo, igualando o seu pior jejum da história, que ocorreu entre 1970 e 1994. Esses sucessivos fracassos na principal competição de seleções costuma sempre vir acompanhado de pressão por mudanças, assim como ocorreu em 2014. De acordo com a pesquisa ‘O Maior Raio-X do Torcedor’, feita pela CNN/ITATIAIA/QUAEST, treinadores estrangeiros têm uma aprovação maior entre os jovens, 61% dos torcedores entre 16 e 30 anos são a favor dessa mudança. Um dos fatores desse aumento na aprovação pode ser relacionado com a vontade de, pela primeira vez, poder vivenciar o seu país sendo campeão. Mateus Motta, de 24 anos, e torcedor do Corinthians, afirma que a inovação pode ser a única solução para a Seleção Brasileira. 

“Sempre fui contra treinadores estrangeiros no comando do Brasil. Porém, atualmente, vejo isso quase como se fosse a nossa única chance. Quando se olha pro mercado brasileiro de treinadores, são poucas as opções que enchem os olhos, o momento de arriscar no mercado externo é agora. Eu quero poder gritar ‘hexacampeão’, assim como meu pai gritou pelo penta e tetra, e meu avô gritou pelos três primeiros títulos”, comenta.

Porém, se tratando de um público mais velho, acima de 51 anos, a aceitação dos estrangeiros na amarelinha diminui. Apenas 45% dos torcedores dessa faixa etária são a favor dessa mudança. Robson Feijó, de 52 anos e torcedor do Flamengo, afirma ser totalmente contra e se apega às raízes do futebol brasileiro.

“Entre 94 e 2002, o Brasil chegou em três finais e ganhou duas, sempre com treinadores brasileiros. Foi campeão em 58, 62 e 70, todas com brasileiros no comando. Apesar de estarmos em um momento ruim, vamos dar a volta por cima, mas não podemos fugir da nossa tradição”, afirma.

As opiniões estão divididas e o debate não para nem por um minuto. Mas o tempo está passando, o ciclo para a Copa do Mundo de 2026 já começou e com essa indecisão o Brasil larga atrás de seus adversários. Icaro Caldas entende o momento de angústia do torcedor, mas afirma que as escolhas têm que ser feitas de maneira pensada:

“Independente de nacionalidade, existem excelentes treinadores que podem assumir a amarelinha e fazer um bom trabalho. Espero que a CBF faça essa escolha se baseando na característica dos jogadores brasileiros e não no país de origem do treinador. Temos uma boa geração de jogadores e acertar no início do ciclo pode ser fundamental para o nosso sucesso em 2026”, finaliza. 

Skip to content