Por Laís Dias

Tendência que nunca sai de moda, os brechós estão conquistando cada vez mais adeptos, impulsionando um crescimento significativo no mercado de compra e venda de roupas e acessórios de segunda mão. Com uma maior conscientização sobre os impactos ambientais da indústria da moda, muitas pessoas estão buscando alternativas mais sustentáveis e econômicas para suas compras. Os brechós têm se destacado como espaços que oferecem uma variedade de peças únicas e com preços acessíveis, ao mesmo tempo em que promovem um estilo de vida mais consciente.

A CEO do brechó ‘Chique à Toa’, Vanessa Ramos Guilherme França, conta que a ideia de abrir o negócio foi inspirada num estabelecimento que conheceu em Brasília, há 13 anos. “Sempre fomos adeptas do reúso e da reciclagem e amantes de moda. Então, por que não abrir um brechó? Unimos tudo que gostamos: moda, consumo consciente e empreender”, ressalta Vanessa.

Ela ainda conta que a procura aumentou durante a pandemia, quando iniciaram as vendas online, e logo após o retorno presencial, o público continuou crescendo. “No início houve um pouco de resistência,  já que muita gente enxergava os brechós como um lugar onde se comprava roupas antigas e com cheirinho de guardada. Mas de um tempo para cá,  como já falamos, esse pensamento mudou e os brechós estão em alta. Em 2022, abrimos mais duas lojas em Niterói: em Icaraí e no Centro”, comemora.

A proprietária afirma que esse aumento na procura pode ser atribuído a dois fatores principais: a oferta de produtos de marcas renomadas a preços mais baixos e a crescente adesão ao consumo consciente. Com a busca por roupas e acessórios de qualidade a preços acessíveis, os brechós têm se tornado uma opção atraente para aqueles que desejam estar na moda sem comprometer o orçamento e, ao mesmo tempo, se preocupam com a sustentabilidade.

“Por ser um ramo em ascensão, hoje nos brechós podem ser encontrados roupas, acessórios, bolsas de grifes seminovas e novas com preços mais acessíveis. E isso vem atraindo mais pessoas a visitarem e a consumirem em nossos brechós. Outra motivação é a questão do consumo consciente. Não podemos falar de brechós sem levar em consideração a sustentabilidade”, ressalta Vanessa.

Fernanda Correia, sócia proprietária do Apoema Brechó, conta que também foi possível notar um aumento na procura pelo seu estabelecimento, especificamente após a pandemia.

“Já são quatro anos do Apoema Brechó. Após a pandemia notamos, sim, um aumento na procura. O público que já nos acompanhava retornou ao espaço físico e recebemos também as pessoas que nos conheceram no online, principalmente pelo Instagram, na nossa loja. E a questão econômica também impactou muito. Então, percebemos um aumento na procura por clientes e por fornecedoras”, analisa ela.

A proprietária acredita que os brechós serão o futuro da moda consciente e sustentável no mundo. “Apoema, do tupi-guarani, significa ‘aquele que enxerga longe’. Esse é o nosso objetivo. Pensando no futuro e em um consumo consciente, nós estamos mudando agora para a maior conscientização desse propósito. Acreditamos que os brechós serão o futuro da moda consciente e sustentável no mundo”.

De acordo com Fernanda, a popularidade dos brechós também pode ser atribuída à crescente preocupação com a sustentabilidade e à busca por preços mais acessíveis, se assemelhando à opinião de Vanessa. “Recebemos clientes que têm preocupação com a sustentabilidade, e também clientes que vêm em busca do benefício da qualidade das peças pelo custo mais baixo”, conta.

A professora Claude Cohen, da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisadora de economia circular, aponta que o aspecto da reciclagem e da sustentabilidade tem sido amplamente desenvolvido nos últimos tempos, tanto por motivos ambientais quanto financeiros. No entanto, ela ressalta que investimentos em marketing e promoção também explicam o desenvolvimento desse tipo de negócio.

“Esse lado da reciclagem, da sustentabilidade, tem sido muito desenvolvido nos últimos tempos, não só por uma questão de proteção do meio ambiente, mas também por uma questão financeira. Desde a crise de 2008 nos países do Norte, as atividades relacionadas com essa questão da reciclagem têm crescido, porque também sai mais barato do que comprar roupas novas. Então, se a gente for falar dos fatores econômicos, eu diria que, principalmente, seria essa questão das pessoas estarem com problemas financeiros maiores, e por outro lado, entenderem que a questão da sustentabilidade é importante também para o desenvolvimento”, pondera.

A economista explica que existe uma forte questão financeira como base para a popularidade dos brechós. Além do fator do valor mais baixo, há também a ideia de exclusividade, já que as peças de brechó não são replicadas em massa. Isso agrada algumas pessoas que buscam uma experiência mais única. 

“Tem a questão do valor, que é mais barato, mas tem também aquela ideia de exclusividade. Porque quando você compra em brechó não tem a possibilidade daquilo ser replicado e tudo mais. Então, tem um lado meio específico em relação a isso que agrada algumas pessoas. Agora, sem dúvida nenhuma, a questão do preço é sempre um atrativo muito forte”.

Questionada sobre o futuro para o setor de brechós, Claude conclui que os pontos positivos e diferenciais continuarão, mas ressalta que é necessário investimento em marketing e outras estratégias, pois a simples ideia da sustentabilidade pode não ser suficiente.

“Essa aura de glamour eu acho que vai continuar. E a diferença com relação ao passado é que hoje em dia existe essa percepção de que é sustentável, que não era o caso há 40 anos atrás. Então, essa perspectiva é muito boa. Mas, na verdade, eu acho que para que um tipo de negócio possa se desenvolver, a gente precisa de algum tipo de investimento de marketing. Não sei se é suficiente apenas a gente mostrar que existe sustentabilidade”

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