Por Gabriela Santos Pires da Costa

Na favela do Canindé vivia uma mulher negra, mãe, forte, semianalfabeta e catadora de papelão. Lá também vivia Carolina Maria de Jesus, grande escritora brasileira que teve suas obras traduzidas em mais de 40 países. As duas são a mesma pessoa, claro, a mesma Carolina imponente que ganhou o mundo com sua visão de liberdade e luta pela justiça.

Carolina Maria de Jesus vivia uma vida dupla, cuidava de seus filhos e trabalhava como catadora para sustentar sua família. Também escrevia sobre sua vida na favela e seu dia-a-dia em cadernos que ela achava durante seu trabalho. Carolina marca uma geração de mulheres que sofrem até hoje com a invisibilidade de suas tarefas e com as dificuldades enfrentadas no cenário da comunidade. Carolina se foi, mas seu legado ficou. Carolina é referência na luta contra o preconceito e o elitismo, é a luz no fim do túnel que tantas mulheres viveram por tempo demais. É a chama que começou pequena e se alastrou através da sua força, do seu conhecimento e dos seus poemas inspiradores. 

Quem são essas “Carolinas”? As mulheres da comunidade são Carolinas, as mães que sonham em dar um futuro digno e honesto para seus filhos são Carolinas. As mulheres negras que lutam dia após dia pela garantia de seu lugar na sociedade, que integram o movimento antirracista são Carolinas. As mulheres que batalham pelo seu direito de estudar, ler e escrever são Carolinas. A escritora mineira não deixou apenas um legado através de seus livros sensíveis e importantes. Ela deixou uma legião de mulheres que querem fazer a diferença e se inspiram na força de Carolina Maria de Jesus e da sua insistência na vida, sem nunca ter desistido mesmo diante de tantas dificuldades. 

As Carolinas que eu conheço podem mudar o mundo. Podem usar a literatura e a escrita para tornar o país um lugar de convívio melhor porque elas têm garra, têm força e não desistem, assim como Carolina Maria de Jesus. Carolina achou seu refúgio nas linhas de um caderno, em meio às letras e palavras, e não só se refugiou como passou seus registros e seus conhecimentos para o papel, levando milhares de mulheres a acreditarem no poder feminino da mulher negra.

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