Por João Victor Dos Santos Oliveira

O Brasil já teve suas rainhas. E um país de rainhas não perde sua realeza. Neste mês de novembro estive pensando muito sobre elas. Pra ser rainha tem que saber governar. Aqualtune, filha do Rei do Congo, foi trazida como escrava depois de, como contam as lembranças, ter liderado dez mil homens contra Portugal na Batalha de Ambuíla pelo seu reino. Ela foi mãe de Ganga Zumba, líder de Palmares, Ganga Zona e Sabina.

A linhagem de Congo se manteve no Brasil. Sabina tem um filho e o chama Zumbi. Zumbi se torna líder do Quilombo dos Palmares e Nzambi coloca Dandara em sua vida. Dandara é guerreira, luta não só por si, mas por seu povo. Para ela, a liberdade de poucos não era suficiente, não aceitava terras, nem uma liberdade relativa. Sentada no seu trono, mandaram lhe chamar. Ela escolheu a guerra e guerreou. E sua lembrança chegou a nós. Guerreou e venceu.

Retorno ao pensamento movido pelo mês em questão: nos lembramos dos grandes guerreiros que lideraram Palmares, mas as mulheres que estavam à frente deles tornaram-se lendas, pouco se sabe, pouco se fala. Caímos em um – quase – evemerismo de crer que tudo que sabemos sobre Ganga, tudo que sabemos sobre Zumbi é história, mas as histórias dessas mulheres tornaram-se mitos. Elas não são apenas apagadas, elas são mitificadas. Suas coroas são roubadas e sua realeza passa a ser lembrada de tempos em tempos. Boa noite, gente, essas mulheres estavam lá.

Mas lembro-me, também, que este ano a realeza foi cantada para todo o Brasil. Um mar verde e rosa canta na Avenida para a rainha guerreira que dobrou vários reis. Casou-se com Alaafin de Oyó. Foi motivo de guerra, foi à guerra. A Mangueira move a avenida e canta para Oyá. Quando cantam para Oyá, cantam para Aqualtune, cantam para Dandara. Cantam para toda rainha, toda guerreira desse país. Rainhas que até hoje resistem e lutam contra os mesmo inimigos. Ao mesmo tempo são mães, Iyabás, mães-rainhas.

Hoje são lembradas, cultuadas, admiradas. São entoadas. Eparrei, Oyá, Eparrei, mainha. Pois hoje reconhecemos suas forças e sabemos: toda preta é rainha

à minha Iyabá.

João Victor

Skip to content