Feiras de adoção têm ganhado espaço e criado roteiros de conscientização sobre cuidados, direitos e afeto com cães e gatos resgatados

Por José Roberto Coutinho

Cresce gradualmente o número de brasileiros que trocam a compra de animais por adoção. O movimento não é considerado pelos adotantes apenas por um viés ético, mas também emocional: quem adota, passa a ser chamado (e se chamar) de “pai” ou “mãe de pet”.

A expressão, que se popularizou nas redes sociais, reflete uma mudança de mentalidade na qual os tutores assumem compromissos que vão além da alimentação e dos cuidados com o veterinário. É possível enxergar em uma família com tal realidade uma relação tal qual pai e filho nos eixos tradicionais, com amor, responsabilidade e apoio próximo ao animal.

É o que constata Daniel Córdoba, voluntário em ONGs de proteção animal que promovem feiras educativas trimestrais em municípios da Região Metropolitana do Rio, como São Gonçalo. 

As pessoas não querem mais comprar um filhote ou um gato de raça, e isso é bom para nós. Queremos dar uma nova chance a um animal que foi resgatado, que foi abandonado. Isso demonstra uma maior consciência coletiva, algo que temos visto crescer bastante nos últimos dois anos”, explica Daniel.

O processo de adoção em feiras organizadas por ONGs não é informal. No ato da adoção, há uma série de etapas e acompanhamento contínuo após a entrega do animal ao novo dono.

A adoção é formalizada por meio de um contrato com o dono, que exige um documento de identificação. Há também o registro simbólico do animal, como se fosse uma certidão de nascimento”, conta.

Além disso, há um período de adaptação. A ONG entra em contato com frequência para saber como está a convivência. A ideia é garantir que o animal esteja realmente abrigado em um ambiente seguro e amoroso.

As feiras costumam ser organizadas em shoppings, escolas, centros comunitários e em estacionamentos de supermercados locais. E a demanda, segundo Daniel, cresce a cada edição.

“Na primeira feira que realizamos, comparecemos com 30 animais, entre cães e gatos. Aliás, recebemos mais de 150 interessados ​​em um único evento. Isso mostra que as pessoas estão mudando a forma como enxergam nossos animais”.

Mas antes de serem colocados para adoção, os cães e gatos passam por uma série de cuidados veterinários. A médica veterinária Denise Souza, que atua na ONG Força-Tarefa, explica que há um protocolo de cuidados para garantir que os animais estejam saudáveis ​​e aptos para uma vida em um novo lar.

“Todos os animais passam por uma triagem. Eles são vermifugados, vacinados e, se estiverem saudáveis, castrados. Além disso, cuidamos das unhas, dos pelos e da higiene geral. Os gatos geralmente têm situações delicadas e exigem atenção específica”, diz Denise.

 Reprodução / X

A castração é uma etapa de cuidado. De acordo com especialistas, evita tumores, infecções e contribui para o comportamento do animal. É uma etapa fundamental no processo de adoção responsável. Além da saúde física, também auxilia na adaptação emocional do animal ao novo ambiente.

“Cada bichinho tem seu tempo. Alguns se adaptam em poucos dias, outros levam semanas. Por isso, é importante que os cuidadores tenham consciência de que não se trata apenas de ‘colocar uma coleira e levar pra casa’. É um compromisso emocional”, completa Denise.

Foto: Reprodução

Foi com esse espírito que o estudante Arthur Alves, de 22 anos, participou de duas edições de uma feira realizada anualmente em Niterói. O primeiro filhote, ganhou o nome de Luma. Meses depois, ele viu e se apaixonou por Flor, uma vira-lata resgatada das ruas.

“Eu sempre quis ter um cachorrinho, mas não conseguia me imaginar comprando um. Quando fui à feira, fiquei chocado. A Luma pulou em mim e parecia que eu a conhecia. Naquele momento, entendi o que era ser pai de um bichinho de estimação”, disse Arthur.

O estudante afirma que a experiência mudou sua rotina e sua forma de enxergar a vida.

“Eles dependem das pessoas para tudo, mas também nos oferecem um amor difícil de explicar. As pessoas aprendem a criar uma família, a se preocupar com comida, vacinação, tudo. E a cuidar de uma criança sozinhas”, compara.

Foto: Reprodução

“Quando as pessoas te amam, você está salvando uma vida. Esses espíritos passam por tanta coisa… Eles só querem amor e um cantinho para descansar. E a gratidão que demonstram é inexplicável, mas é lindo de sentir. Ser pai de pet é estar presente, e entender que aquele ser tem sentimentos, emoções, alegrias. E assumir que, a partir daí, ele faz parte da sua vida”, explica Arthur.

Nos últimos anos, o número de cães em feiras tem superado, em algumas regiões, a procura por criadores e pet shops. Para aqueles envolvidos nas ações de resgate, este é um sinal claro de que a sociedade está a caminho de relacionamentos mais receptivos e empáticos em relação não apenas às feiras, mas aos descasos muitas vezes causados no comércio e na venda de pets.

ONGs e grupos de proteção animal realizam feiras educativas em diversas cidades do Rio de Janeiro. Para rastrear dados e locais, é necessário acompanhar os perfis oficiais nas redes sociais ou entrar em contato com os protetores locais.

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