A valorização é uma questão perene para os profissionais da educação
Por Julia Barbosa
Em janeiro de 2023, o Ministério da Educação (MEC) anunciou que o piso salarial dos professores da educação básica sofreria um aumento de aproximadamente 15%, passando de R$ 3.845,63 para R$ 4.420,55. Apesar de ser uma vitória significativa para a classe, ainda é um passo conquistado com muito esforço e ao longo de vários anos. Tanto para os graduandos de licenciatura quanto para os docentes com anos de experiência, o tempo passa e o e a maior demanda continua insatisfeita: valorização.
Com a chegada da Geração Z no mercado de trabalho, também testemunhamos a primeira leva de professores nativos digitais. Essa característica acarreta alguns diferenciais, como a maior facilidade de aderir às novas ferramentas tecnológicas e até a abordagem pedagógica utilizada em sala.
Para Biatriz Nunes, que está em seu primeiro emprego no magistério, estar familiarizada com a linguagem digital e com as referências culturais da geração mais nova colabora com a proximidade com os alunos e com a adesão das turmas ao conteúdo ensinado: “Acho que a tecnologia aproxima o ensino da realidade do aluno, o que acaba facilitando essa comunicação”.
A graduanda em Ciências Biológicas da Universidade Fluminense diz que fica muito contente em ver os alunos entendendo a matéria, progredindo e ganhando independência por causa de suas explicações e dos materiais que prepara. Porém, ela também destaca que, apesar dos muitos momentos gratificantes de seu trabalho, há outros bastante desencorajadores:
“É muito difícil ter que lidar com a desvalorização do professor, seja em questões salariais, seja com o desrespeito em sala. Essa já era a maior dificuldade anos atrás e acho que por bastante tempo ainda vai ser”, revela.
Pode parecer um choque para alguns veteranos, mas seus ex-alunos estão chegando às salas de aula, agora, como professores. No caso de Luiz Eduardo Ferreira, o sentimento não é surpresa, mas sim orgulho da filha Biatriz ter virado sua colega de trabalho. O também professor de Biologia concorda com ela e atesta que, desde que começou a lecionar, no final dos anos 1970, a falta de valorização do profissional de educação vem aumentando com o passar do tempo:
“ Houve uma época em que o magistério era valorizado e os grandes profissionais eram cobiçados por várias instituições. Hoje, o menino chega para dar aula sem perspectiva, por causa dos salários baixos e, dependendo de onde ele esteja empregado, da falta completa de condições de trabalho”, argumenta.
Luiz ainda expõe que a situação do ensino nos colégios públicos brasileiros também foi piorando com o passar dos anos. Ele descreve que, por conta da falta de recursos, as turmas que antes tinham até trinta alunos, hoje têm cinquenta, o que prejudica o rendimento da aula. Além disso, a carência de infraestrutura, sobretudo de aparatos tecnológicos e provisões básicas, acaba desencorajando não só os estudantes, mas os professores também.
As circunstâncias dos profissionais e das instituições de ensino não ficaram mais difíceis só por causa do tempo, mas sim em virtude de governos que não valorizaram as prioridades da Educação. Em 2022, ainda sob o mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro, os cortes de verbas no MEC foram os maiores em duas décadas, acumulando mais de R$ 40 milhões em orçamento bloqueado.
Valor além do bolso
Além da parte financeira, que prejudica o salário e as condições de trabalho dos professores, o valor moral conferido à profissão também é abalado pelo sucateamento da educação. Recentemente, no dia 9 de julho,o deputado federal Eduardo Bolsonaro exclamou em um comício que “Não tem diferença de um professor doutrinador para um traficante de drogas que tenta levar nossos filhos para o crime”. A fala que ataca diretamente os educadores foi aplaudida por seus apoiadores, assim como outros momentos em que o político do Partido Liberal (PL) exaltou o porte de armas, por exemplo.
Luiz Eduardo defende que, apesar do constante demérito da licenciatura como “subemprego”, estar em sala de aula é um prazer tão grande que compensa os desafios:
“Você lida com vários universos diferentes: com o jeito, com a intelectualidade, com as dificuldades, com as mazelas de cada um. E poder acrescentar um pouquinho de você e do seu conhecimento nesses mundos sempre foi algo que me encantou muito”, conta o biólogo.
Biatriz também faz parte da paixão do pai pela educação, vinda de uma “linhagem”cheia de professores. A jovem que está nas duas posições da sala de aula conta que leva um pouco de cada um dos mestres de sua família no seu dia-a-dia no começo da carreira:
“Não dá para viver só de amor à profissão! É muito difícil não desistir, mas é bizarramente gratificante você ver que as pessoas que estão ali na sua frente estão entendendo o conhecimento que você está passando e ver que elas gostam de você e do modo que você explica”, reflete.
Luiz, há anos apelidado carinhosamente pelos alunos de “Ledubio” – uma abreviação para Luiz Eduardo Biologia – completa que seu trabalho ao longo de mais de quatro décadas no magistério se atualiza junto com as gerações que chegam às escolas:
“Ensinar me mantém vivo e, embora eu tenha 61 anos de idade, me mantém jovem. Eu não tenho o direito de envelhecer, porque se eu envelhecer não acompanho os alunos nas suas necessidades. Então, eu procuro estar antenado sempre com tudo aquilo que eles precisam e gostam. Isso é importante para eles e acaba me rejuvenescendo a cada dia”, completa Ledubio.