Por Lohayne Borges
O Brasil ocupa o segundo lugar no ranking de realização de procedimentos estéticos em todo o mundo, e hoje, é muito fácil encontrar no Instagram personalidades midiáticas que aderiram a algum tipo de intervenção, como a famosa lipoaspiração HD, conhecida como lipo lad, ou a harmonização facial. Mas a padronização de rostos e corpos trazida pelo mundo das influencers é prejudicial tanto para quem consome e se espelha nesse conteúdo, quanto para quem se expõe e acaba sujeito a uma avaliação pública.
A Psicóloga Jessyca Ferreira questiona a falta de cuidado com o outro nas redes. “Emitir a opinião vem sendo colocado em um lugar de necessidade, como se tivéssemos de opinar e ter um posicionamento sobre tudo a todo instante. E nessa teia de opiniões compartilhadas, e de não entendimentos e não elaborações, vão se autorizando os discursos ilimitados sobre o outro. Sem cuidado, sem afeto e sem ética. Que direito nós temos sobre a vida do outro?”, alerta. Ela também chama atenção para o risco de gatilhos de ansiedade impulsionados pela perfeição vendida nas redes: “A exigência da vida perfeita estimula, responsabiliza e culpabiliza cada vez mais o sujeito”.
O jovem Raphael Marques confessa que já se sentiu afetado pelos comentários nas redes, mas hoje aprendeu a conservar sua autoestima. “A padronização é algo muito sem nexo, pessoas acabam se matando por mexerem demais no seu corpo. Antigamente sim, já liguei muito para o que falavam do meu corpo, hoje em dia acho que ser twink é tudo e nada mais importa. Tem dias que a gente acorda que nem a bela e também que nem a fera e tá tudo bem, ninguém é 100% Barbie”.
Para a jovem Mariana Karolina, de 22 anos, a ditadura da beleza recai principalmente sobre quem não se encaixa no padrão: “acho que devemos entrar em um padrão se for bom para nosso ‘Eu’ interior, não para caber na sociedade, mas acho que de tanto ver o perfeito na rede social queremos chegar ali, chegar também no bonito aos olhos dos outros”.
Não muito diferente da Mariana, Lays Silveira considera que o padrão de beleza único não existe e cada um deve buscar aquilo que se sente melhor, mas revelou um outro dilema enquanto jovem negra e pressionada a caber no que é dito como “bonito” na sociedade. “Acho que toda criança preta já se sentiu um pouco assim, pouco bonita, menos atraente, com os cabelos feios e até hoje é um pouco complicado com os padrões da sociedade. Mas o que é bonito? Para mim, bonito é estar bem com você acima de tudo! Ver meus semelhantes, me auto aceitar e entender que eu também sou bonita me tornou muito melhor e confiante”. Mas apesar de hoje ter uma relação boa com sua aparência, Lays revelou ter vontade de fazer uma rinoplastia, procedimento estético muito comum.
Mesmo dentro do “padrão” imposto pela sociedade é muito comum, principalmente entre as mulheres, a comparação ou a busca pela perfeição, o que afeta diretamente a autoestima, a autoimagem e a autoconfiança. A influenciadora e humorista GKay deu declarações sobre a reversão de alguns de seus procedimentos e revelou que o motivo para realizá-los foi a distorção da imagem. “Tirei três litros de ácido hialurônico que tinha no rosto. Eu tinha um pouco de distorção de imagem. Lábio carnudo é uma coisa, salsicha é outra”, declarou. Ela diz que agora se sente melhor como está e evita comparações “Hoje tento não me comparar, porque o legal é a gente fazer nosso trabalho e a pessoa gostar do que a gente faz, não do que o outro está fazendo e a gente está copiando”.
A atriz Giulia Costa, filha de Flávia Alessandra, também chegou a compartilhar uma foto em que aparece aos prantos e tentou incentivar o público a não fazer comentários a respeito de seu corpo: “Caso não tenha ficado claro, não é questão de ‘ligar para a opinião alheia’. O corpo do outro não se comenta. A gente não sabe o que se passa”, disparou a moça em seus stories.
A Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS) divulgou uma pesquisa global em janeiro deste ano, apontando que houve um aumento de 19,3% nos procedimentos realizados, sendo mais de 12,8 milhões de procedimentos cirúrgicos e 17,5 milhões de procedimentos não cirúrgicos. Segundo a instituição, a lipoaspiração foi o procedimento cirúrgico estético mais comum em 2021, sendo um dos cinco procedimentos cirúrgicos mais populares, seguido por aumento dos seios, a cirurgia de pálpebras, a rinoplastia e a abdominoplastia. Já entre os cinco principais procedimentos não cirúrgicos mais populares estão a toxina botulínica, o ácido hialurônico, a depilação, o lifting facial e a redução de gordura.