Por Taís Codeco
Não faz muito tempo que você acordava, pegava seu cobertor e ia enrolado para a sala colocar a fita de VHS do seu desenho animado favorito. A Bela e a Fera, Aladdin, Tarzan, O Rei Leão, Mulan… muitas opções para iniciar o dia como uma criança completamente feliz. Mas, para aquecer o coração dessa geração, hoje no auge dos seus mais de 20 anos, as empresas têm apostado cada vez mais em live-actions que trazem a sensação de nostalgia para adultos que aguardavam ansiosamente por ter a sensação da infância novamente.
A lista de longas-metragens produzidos pela Disney, uma das maiores empresas cinematográficas, é extensa. Desde 2016, com o lançamento de “Mogli, O menino lobo”, o estúdio vem apostando cada vez mais para transformar desenhos clássicos em remakes de sucesso. A mais nova adaptação da Disney foi “A Pequena Sereia”, que bateu US$ 500 milhões de bilheteria mundial. Somente na primeira semana de estreia, arrecadou US$ 185,8 milhões, segundo o Box Office Mojo, repetindo o sucesso da primeira versão cinematográfica da história de 1989.
Comprovando que as adaptações são um sucesso, “O Rei Leão” (2019) teve uma bilheteria de US$ 1.663.075.401, seguido de “A Bela e a Fera” (2017), com US$ 1.266.115.964. Em terceiro lugar temos “Aladdin” (2019), faturando US$ 1.054.304.000. Para o cineasta Angelus Magno, além do faturamento alto das empresas, as histórias estão trazendo uma nova visão, mudando conceitos antes considerados problemáticos por essa geração que hoje já é adulta, e mostrando a adaptação dos grandes longas às discussões atuais, como racismo, machismo e outros preconceitos.
“Acredito que dos anos 90 pra cá, muitos valores mudaram. A forma de retratar as histórias de antigamente, hoje, já não é mais aceitável. E a Disney, por exemplo, está investindo nos personagens que deram lucros para eles. Antes de ir para a fase live-action, houve a fase das sequências dos filmes que vinham em VHS ou DVD, teve a sequência de Natal em “A Bela e a Fera”, de “Cinderela” e muitas outras. Acredito que a Disney quer tanto contar histórias para as crianças de hoje de uma forma mais aceitável, mais adaptada às discussões contemporâneas, quanto alimentar a criança interior dos adultos que foram crianças naquela época”, avalia.
E é assim que se sente a estudante Brenda Rodrigues, de 22 anos. A jovem conta que sempre gostou de filmes, séries e livros numa pegada mais adolescente e que mesmo com a vida adulta batendo na porta e a obrigando a ter responsabilidades, continuou com o hábito ao longo dos anos. Para Brenda, a permanência nesse tipo de conteúdo, no fundo, se dá por ter um estilo mais leve de ver a nossa realidade, que por vezes, se torna pesada e cansativa.
“Na adolescência tudo era mais fácil, é bom lembrar às vezes dessa fase, principalmente quando começamos a ver mesmo as responsabilidades reais que a vida adulta traz consigo. Eu não penso que essa é uma maneira de não conseguir desapegar da adolescência, mas, sim, no sentimento de nostalgia”, diz a jovem, que estava ansiosa para a estreia do live-action de “Barbie” que estreou nos cinemas do país no dia 21 de julho.
A estudante de enfermagem Kelly Alves, 23, também é apaixonada por séries, filmes e livros juvenis, e não abre mão de poder ter nessas obras um certo refúgio das turbulências que vêm com a fase adulta.
“Ver uma história da infância ganhando vida de novo e sendo recriada é nostálgico. Sinto como se me fizesse voltar no tempo, poder vivenciar as sensações de quando ainda era uma criança. Sempre que tenho um dia difícil procuro um “besteirol” pra assistir, é um certo refúgio, porque sei que independente do desenvolver da história tudo sempre termina bem”, conta.
Angelus reforça o quanto o cinema e suas produções são importantes na vida das pessoas e o quanto ajuda em diversas etapas da vida. Ter essas recriações alimenta um sentimento para além da nostalgia, traz a sensação de pertencimento e de representatividade para adultos, que em muitos momentos viviam à mercê de uma indústria feita em sua maioria por homens brancos, héteros e da elite.
“De uns anos para cá, com muitas batalhas de movimentos sociais, pontos de vista diferentes passaram a ser mostrados no cinema. e o que é mostrado influencia o comportamento das pessoas, principalmente quando se tratam de crianças ou adolescentes”, explica o cineasta. Ele também reflete sobre o porquê da procura dos adultos dos anos 90 por animações que lembram a infância.
“Essas novas obras trazem uma referência que não tivemos quando pequenos. Quando vemos a representação de uma sereia negra, personagens LGBTQIAPN+, heróis com alguma deficiência… tudo isso é algo que não tivemos acesso, ter isso hoje alimenta uma nova sensação, de pertencimento àquelas histórias”, avalia.
Algumas das próximas adaptações confirmadas para nos cinemas:
Branca de Neve: A adaptação do live-action da animação de 1937 está marcada para 22 de março de 2024. Rachel Zegler será a Branca de Neve e Gal Gadot representará a Rainha Má.
Mufasa: O Rei Leão: Adaptação com previsão para 5 de julho de 2024 vai contar a história de Simba, que terá se tornado Rei. Ele estará determinado para que seu filhote siga seus passos enquanto as origens de seu falecido pai Mufasa são exploradas.
Moana: Irá para as telas dos cinemas em 27 de junho de 2025. No Remake em live-action do sucesso de 2016, a história vai celebrar as ilhas, comunidades e tradições dos povos do Pacífico, vistas pelos olhos de uma jovem ansiosa por trilhar seu próprio caminho.
Aladdin 2: Ainda sem data de lançamento, será a sequência do live-action de 2019. A confirmação foi do diretor Guy Ritchie que afirmou que continua desenvolvendo o novo filme e tem muitos planos para a sequência
Lilo & Stitch: Ainda sem data de lançamento, a adaptação em live-action da animação de 2002 já está sendo produzida.
O Corcunda de Notre Dame: Sem data de estreia. O ator Josh Gad, que está atuando no projeto como produtor, confirmou no Twitter que a estreia da nova versão em live-action de “O Corcunda de Notre Dame” está bem próxima.