Por Ruann de Lima
A batalha de rima surgiu aqui no Brasil nos início dos anos 2000 e, desde então, vem crescendo em todo o país. Nomes como Orochi, Jaya Luck, Kant Mc, César MC, Jhony, Azzy, Mc Sid e muitos outros têm contribuído para o reconhecimento do Rap na cena musical e artística brasileira. Alguns permanecem fiéis à origem underground do gênero, enquanto outros exploram diferentes possibilidades de exprimir sua arte. No entanto, todos eles têm em comum a valorização do Rap em suas roupas, formas de expressão e no respeito que demonstram pela cultura Hip Hop.
Fundada em 2003 pela equipe Brutal Crew em Belo Horizonte, a Liga dos Mc’s se tornou uma das principais competições de freestyle do Brasil. Com seu sucesso, atraiu a atenção da mídia, e duelos foram transmitidos na MTV Brasil, no programa Yo! MTV Raps.
Dessa forma, as batalhas de freestyle estão mais poderosas do que nunca, alcançando milhões de espectadores em cada edição. Atualmente, os artistas têm a oportunidade de competir por prêmios valiosos, como roupas, produções e dinheiro, algo que nem sempre foi possível. Essa ascensão tem impulsionado o reconhecimento e prestígio dos artistas que participam dessas batalhas.
A Batalha do Tanque, por exemplo, é uma das maiores representantes de batalhas do país. De uma maneira geral, as batalhas de freestyle têm experimentado um crescimento significativo em todo o país, revelando, assim, grandes talentos para a nossa cena musical.
Para Gaspary, um dos organizadores da Batalha do Tanque que acontece todas as quintas feiras em São Gonçalo, RJ, a Batalha de Rap muda a vida através da perspectiva de vida que traz através da cultura.
“Ela mudou dezenas de vida mostrando que é possível se desenvolver através da Cultura.” Disse o organizador que trabalha há 11 anos desenvolvendo a roda cultural.
Além disso, para ele, “através da Batalha do Tanque, diversos artistas que hoje são relevantes no mercado da música brasileira tiveram seu primeiro contato com a cena”.
Para MZ, artista da 1Kilo, a Batalha de Rap foi um dos maiores pilares para a carreira de sucesso dele.
“Indiscutivelmente foi um dos maiores pilares da minha carreira, porque muito do público que fui alcançando, até antes da 1KILO, vinha daqui, essa tensão da galera que via a batalha e cobrava música, e foi sem dúvida um trampolim enorme para minha carreira” disse o artista.
Apesar do sucesso das batalhas, o movimento ainda precisa superar um outro desafio. A maioria dos participantes que batalham são homens, e para uma mulher chegar a ter reconhecimento na cena do Rap, vencer as batalhas não é o suficiente, é necessário vencer o machismo.
“É um ambiente predominantemente de homens e é machismo o tempo todo desde sempre, e aí a gente tá nisso pra mudar e poucas minas têm a coragem de ir. Eu já ouvi muita coisa baixa e nem toda mina quer ouvir isso”, disse a MC Levinsky, rapper vencedora de diversas batalhas pelo Brasil.
Mas, apesar disso, para ela, já houve algum avanço.
“Agora as portas estão mais abertas, o pessoal tá querendo incluir mais, tanto que foi criada a batalha de diversidade, dos LGBT’s, batalha de mina, e isso é uma inclusão um pouco maior”.
Além do machismo, o rap sofre com muita desvalorização na sociedade, por ser um ritmo que se concentra nas periferias. Pessoas que não estão nos grandes centros do país sofrem ainda mais com isso, como é o caso das batalhas de rap no Nordeste, que não são muitas vezes lembradas pelo público. No entanto, o cenário do rap vem lutando para ter seu reconhecimento.
“O rap nordestino em geral é negligenciado, mas eu acho que o rap desenvolvido no nordeste é mais evoluído, pois está no nosso sangue, misturando o repente e o coco da música raiz nordestina”, disse Chuck MC, rapper paraibano vencedor de várias batalhas de rima na região.
Rap e Hip Hop
A batalha de rima é uma das expressões de um movimento cultural popular e recente, que luta diariamente para sobreviver, já que na maioria das vezes não recebe incentivos dos Governos: o Hip Hop. Para além do Rap, rima e lírica, o Hip Hop é um estilo de vida, e principalmente um propósito para muita gente.
O movimento foi criado nos Estados Unidos nos anos 1970 e trouxe com ele o gênero musical. No entanto, existem pessoas importantes nessa cena que defendem que o Rap surgiu do samba, por exemplo, o cantor e escritor Emicida. Para ele, o Rap é fruto do que o ritmo brasileiro já produzia.
“A música fala em cima de uma batida, é uma coisa que o samba já vinha produzindo, o ‘deixe que digam, que pensem, que falem, deixe isso pra lá, o que é que há, o que é que tem’ é um Rap”, disse o cantor, em entrevista ao Roda Viva, em 2020.