Por Henrique Lima
As quedas de aviões de pequeno porte no Brasil têm gerado uma repercussão muito grande, com muitos veículos de comunicação noticiando e debatendo o tema, viralizando nas redes sociais e levantando questionamentos a respeito da segurança de voos no Brasil. Apesar disso, o transporte aéreo é considerado o segundo meio mais seguro do mundo segundo a revista americana Condé Nast Travaler, em pesquisa realizada em 2021. O Brasil realizou 830 mil voos no país em 2022, um aumento de 39% em relação ao ano anterior, de acordo o anuário do transporte aéreo, divulgado pela ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil).
Acidentes envolvendo aviões de grande porte, como Boeing e Airbus, controlados por empresas como LATAM, Gol, entre outras companhias aéreas, são bem menos frequentes que casos envolvendo aeronaves de pequeno porte, geridos por empresas menores. Somente no primeiro trimestre de 2023, foi registrado o maior número de acidentes aéreos nos últimos cinco anos: ao todo, foram 48 casos, segundo dados do Sistema de Prevenção e Acidentes Aeronáuticos (SIPAER), da Força Aérea Brasileira. Nos últimos 11 anos, o Brasil registrou 1.856 acidentes aéreos, com 832 vítimas confirmadas. A maior parte envolveu aeronaves de transporte particular e de finalidade agrícola, sendo elas de pequeno porte.
Em setembro deste ano, um avião de pequeno porte que transportava 12 passageiros para o interior do Amazonas caiu no município de Barcelos, região norte do Brasil, vitimando todas as 14 pessoas que estavam na aeronave. O Embraer modelo EMB-110 Bandeirante tinha capacidade máxima de 18 passageiros e autonomia de voo de 2.000 km e sofreu o acidente em uma tentativa de pouso no aeroporto de Barcelos, devido às condições meteorológicas. Segundo o secretário de Segurança Pública do Amazonas, Coronel Vinícius Almeida, durante coletiva de imprensa, “O momento do acidente era de chuva muita intensa. Temos a informação de que duas aeronaves antes desse voo optaram por regressar a Manaus, porque a segurança do local não permitiu o pouso”, afirmou. As investigações ainda seguem e a causa do acidente ainda não foi informada. Em nota, a ANAC lamenta o ocorrido.
Para o Comandante Friedmann (51), aeronauta com 25 anos de aviação comercial, o aumento da quantidade de acidentes envolvendo aviões de pequeno porte é decorrente do aumento do número de aeronaves operando em território brasileiro. Na visão dele, dentro da aviação comercial esses acidentes não têm tanta repercussão.
“Acidentes com aviões de pequeno porte não são um assunto tratado pelas grandes empresas aéreas, visto que não geram nenhum conhecimento ou recomendação de interesse das mesmas”, completou. Porém, o experiente piloto afirma que todo acidente aéreo é investigado pelo CENIPA (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) e tem como objetivo absorver conhecimento e gerar novas recomendações com o objetivo de mitigar as ameaças e aumentar a segurança de voo.
“Um número grande de protocolos são gerados após um acidente de grande porte. Podemos citar como mudança a padronização de fraseologia e o CRM (Cockpit Resource Management)”, afirmou. Para que os casos envolvendo aviões de pequeno porte diminuam, Friedmann sugere um reforço na matéria sobre a segurança de voo nos cursos de formação de pilotos no Brasil.
Matheus Millar (22), piloto comercial, afirma que a aviação no Brasil segue forte, porém acidentes acontecem, e, por mais que se tomem as devidas precauções, situações adversas podem acontecer. Para o jovem piloto muitos acidentes são fatalidade. “Por mais que o piloto e manutenção estejam bem de modo geral, a natureza pode sempre vir a interferir, seja por chuva, vento ou formações meteorológicas”, completou.
No Brasil, o caso mais emblemático de acidente aéreo ocorreu em 2007, quando a aeronave TAM 3054, que pousava no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, passou da pista de pouso e colidiu com o prédio da TAM Express e um posto de gasolina, vitimando todos os 199 passageiros, além de 13 pessoas em solo. Um ano antes, em setembro de 2006, o Gol 1907 se chocou contra um jato dos Estados Unidos, vitimando os 154 passageiros da aeronave.