A luta e resistência dessas estudantes pela permanência na instituição.

Por Lívia Mendes

Ser mãe exige dedicação e atenção 24 horas por dia, pois, gerar, educar e cuidar de uma criança é uma atividade que requer muito tempo e esforço. Cursar uma graduação também é uma ocupação em que o tempo e a dedicação são essenciais. Portanto, conciliar essas duas tarefas é uma missão difícil enfrentada por muitas mulheres no seu cotidiano. E é nesse sentido que a instituição tem o dever de ajudar as estudantes a se manterem na academia através de políticas institucionais.

A diretora do Instituto de Ciências Humanas e Filosofia (ICHF), Flávia Rios, entende que a universidade deve acolher as estudantes em todos os sentidos. “Eu acho muito importante que as mães estudantes possam ter um apoio institucional da Universidade no sentido muito amplo. Desde da materialidade de ter espaços, onde, por exemplo, você pode trocar uma criança em banheiros que possam ter condições adequadas. Até um espaço em que elas possam eventualmente ficar um tempo para distrair um pouco a criança”, afirmou a diretora.

Aos poucos a UFF vem organizando políticas para auxiliar as mães na vida acadêmica, como a criação da sala de apoio para as mães, inaugurada em setembro de 2022, após muita luta e reivindicações das estudantes. No local, elas podem amamentar seus filhos, alimentá-los, trocar fraldas e também descansar durante a rotina acadêmica. Porém, para Flávia, apesar de muitas conquistas já alcançadas, a universidade ainda “engatinha” em relação a essas políticas por conta da estrutura machista em que a instituição foi construída. 

“Apesar de alguns avanços que algumas mulheres conseguiram, ainda estamos engatinhando em relação aos espaços e as políticas voltadas para as mães e eu acho que vai muito devagar porque a universidade foi estruturada e construída por  basicamente muitos homens”, pontuou a diretora.

Sala de acolhimento para as mães. Reprodução/UFF

Para Fernanda Bainha, mãe e doutoranda pela UFF, o maior desafio enfrentado é ter que lidar com o machismo, a falta de rede de apoio e os julgamentos. “Ser mãe numa sociedade patriarcal que estruturou os ambientes institucionais de forma a não acolherem crianças e que é estruturante de todas as violências que sofremos no dia a dia.  No inconsciente coletivo, a mulher mãe deveria estar em casa.”, disse a estudante.

Outro problema citado pela estudante é a insuficiência das bolsas ofertadas pela instituição. Atualmente, a UFF oferece bolsas de apoio à estudante gestante e auxílio à educação infantil, porém, para Fernanda, as políticas são insuficientes e não são eficazes para ajudar as mulheres a permanecerem na academia. Como por exemplo, o fato de que as estudantes de graduação ainda não possuem direito à licença maternidade.

Roberta Ferreira, mãe e estudante de pedagogia afirma que o auxílio educação foi de grande ajuda para ela, porém seu filho já atingiu a idade limite e não tem mais direito à bolsa. “Eu sou mãe solo, uma mulher periférica, e moro longe, então o dinheiro da Educação Infantil fez toda diferença para mim. Eu entendo que a primeira infância é uma faixa etária que precisa de uma ajuda maior, só que isso não vai mudar quando a criança fizer seis ou sete anos”, concluiu Roberta.

Muitas mulheres são mães solo e não possuem ajuda financeira ou emocional, portanto, precisam se desdobrar para crescerem profissionalmente e serem mães presentes. Como na sociedade patriarcal a mulher é a encarregada de cuidar dos filhos, esse problema não atinge os pais, que normalmente não precisam escolher entre assistir a uma aula ou cuidar do seu filho.

De acordo com dados do Parent In Science, movimento que busca apoiar as mães na ciência, 58,2% das bolsas de pesquisa (PQ-1A) de 2023 foram destinadas para homens brancos, enquanto para as mulheres brancas foram apenas 29,8%. Para as mulheres pretas e indígenas, nenhuma.

Coletivos e Movimentos dentro da Universidade

Como uma forma de resistência, foi se criando dentro da Universidade grupos de mães que lutam pela causa. Em 2018, surgiu o Núcleo Interseccional de Estudos de Maternidade (NIEM), com o intuito de localizar e integrar as mães da Universidade, e consequentemente dar voz aos seus questionamentos. 

De acordo com a coordenadora do núcleo, Camila Cidade, o NIEM esteve envolvido em todas as conquistas internas da UFF desde sua criação, como: mudança no sistema da graduação, inserção de fraldários, abertura da primeira sala de acolhimento para mães, acordo para as mães deixarem de ser barradas no bandejão enquanto estão com seus filhos.

O NIEM também é responsável pela realização do Colóquio Universidade e Maternidade, onde gestores são convidados a ouvirem alunas e coletivos para fazerem uma análise dos avanços e retrocessos da instituição em relação à maternidade, e o que pode ser feito para melhorar. 

Outras organizações, como o Informativo Mães da UFF e o Movimento Mães da UFF, do qual as primeiras duas mães entrevistadas fazem parte, também possuem o mesmo intuito: lutar pelos seus direitos e resistir à sociedade e à estrutura machista presente na universidade. “A universidade pública tem que ser um espaço de promoção da equidade, de elaboração de políticas que atenuem as violências que já sofremos como mães fora dela. E não um espaço que reproduz o discurso hegemônico do patriarcado sobre a mulher”, lembra a estudante Fernanda Bainha.

Para acompanhar e apoiar a causa, siga os perfis: @nucleoniem, @maesdauff, @movimentomaesdauff.

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