Por Mayara Dias
Depois de 16 anos de funcionamento, a Prefeitura Municipal de Niterói determinou o fechamento da “Feira de Petrópolis”, localizada na Praça Arariboia, no Centro de Niterói. A determinação foi feita à empresa Petro Serrana, antiga sublocadora do espaço antes da “doação” feita pelos Irmãos Cunha ao município, que não repassou a informação da venda aos mais de 80 lojistas que trabalhavam no local. A assinatura foi redigida em dezembro de 2022, estabelecendo um prazo de desocupação até 31 de janeiro de 2023, do qual a organização que administrava o espaço estava ciente.
A “doação” foi feita porque a Prefeitura tem um projeto de revitalização da orla da cidade, que vai desde o Mercado São Pedro até a Praça Duque de Caxias, próximo ao Forte do Gragoatá. No mesmo lugar vai ser construída uma praça de convívio social, com o objetivo de oferecer mais paisagismo e lazer para a população. Porém, tais informações não foram passadas aos comerciantes. Foi através de posts nas redes sociais que uma das locatárias viu que no projeto de 450 anos da cidade, a Feira de Petrópolis não se encontrava. Ao se dirigir à sede da Prefeitura para obter mais informações, recebeu a notícia de que o acordo havia tramitado em dezembro, e de que existia um prazo pré-estabelecido para a desocupação do espaço, que se encerrava dali a dez dias.
Os comerciantes se uniram e foram atrás de seus direitos. Contataram os administradores, que negaram a informação, alegando que o espaço não seria fechado. A partir desse momento, os vendedores retornaram à Prefeitura e tiveram acesso ao secretário municipal de Mobilidade e Urbanismo de Niterói, Renato Barandier, que apresentou todos os trâmites do processo e comprovou o fechamento do local. Ao se deparar com a omissão do caso, sugeriu uma nova data para fechamento da feira, que seria em 31 de março, com o objetivo de ajudar apenas os feirantes. Emissoras como a TV Globo e a TV Record ouviram e cederam espaço à causa. A vereadora de Niterói, Benny Briolly (PSOL), também tentou ajudar os expositores, no entanto, já era tarde. Por fim, a empresa responsável por alugar os boxes apenas se comprometeu a achar um outro lugar para o funcionamento dessas lojas, mas isso não aconteceu.
Os lojistas chegaram a entrar com um processo pedindo a permanência no local. No primeiro momento, o juiz determinou na liminar que os lojistas poderiam permanecer lá, mas a Prefeitura deu entrada no embargo comprovando que não era responsável pela falta de informação aos comerciantes e uma outra juíza derrubou a liminar. Os lojistas afirmam que houve falta de informação e atitudes maldosas por parte dos administradores do local, visto que afirmam a todo tempo que estava tudo resolvido e ninguém precisaria sair do espaço. Os responsáveis da Feira de Petrópolis afirmam ainda que o ambiente fechou por inadimplência dos sublocatários.
Com a incerteza do que aconteceria, uma parte dos vendedores já alugou outros espaços, como o “Pop Mall”, shopping das Barcas próximo à antiga Feira de Petrópolis. Outros realizaram promoções e ficaram somente com vendas online à espera do que de fato aconteceria. Antes do fechamento da Feira, os vendedores já estavam à procura de um novo espaço com medo de como seriam os próximos meses sem uma renda fixa. O último dia de funcionamento da Feira foi em 29 de julho, com a retirada total dos vendedores e suas estruturas no dia 31 de julho.
Alguns comerciantes se uniram para conseguir um novo ambiente e criaram a ASSENIT (Associação de Expositores de Niterói) com o objetivo de juntos terem condições financeiras e legais para tal. Então, foi nesse momento que uma loja fechada há alguns meses se tornou a galeria “Nikity – Sua galeria da moda”. No dia 6 de outubro, 12 expositores inauguraram o ambiente, localizado na Avenida Ernani Amaral Peixoto, nº 55, no Centro. A microempreendedora e presidente da ASSENIT, Jenifer Rodrigues, de 33 anos, fala sobre esse processo de fechamento até a conquista de um novo ambiente.
“Nós fomos jogados para fora de um lugar. Nós tínhamos uma renda boa. Muita gente ali pagou faculdade de filho, construiu casa com essa renda. Então, hoje estamos sem nada, mas a gente sabe que o potencial de quem está ali dentro é grande. A partir daí começamos as negociações do novo espaço até conseguirmos. O ponto aqui é muito bom. Estamos em frente a um ponto de ônibus, uma passagem muito boa, que é a entrada da Amaral Peixoto. A maior dificuldade é se estruturar. Ainda não tem iluminação aqui na frente, a placa na fachada está sendo legalizada, porque nós não viemos preparados, tudo é dinheiro do nosso bolso”, diz a expositora.
Mas dos 80 lojistas, nem todos tiveram um recomeço de sucesso. Alguns continuam esperando seu espaço com o número de vendas reduzido e buscando outros meios de garantir a sua sobrevivência. Diferentes lugares abrigam esse vendedores, como lojas no Niterói Shopping, localizado na Rua da Conceição. Outros ainda estão à procura de um novo local, como é o caso da Renata Manhãs, microempresária de 44 anos. Ela relata como tem sido a sua rotina depois do fechamento do local e a maneira que tem vivido nos últimos meses.
“Pós Feira de Petrópolis eu tive que tomar uma decisão muito fria, porque eu tinha pouco tempo com o meu negócio e tinha feito um investimento alto. Se eu soubesse desses rumores antigos, eu não teria investido tanto. E quando saí de lá as dívidas continuaram chegando. Então, eu optei pelas vendas online para sanar essas contas”.
A expositora revelou as dificuldades enfrentadas diante da situação e contou que precisou recomeçar do zero até a próxima oportunidade. Além disso, ela fala sobre empresários que começaram a circular pela Feira desde o surgimento do processo de fechamento.
“Após a divulgação pela imprensa de que o distrato foi feito em 30 de dezembro do ano passado, a administradora Leguiá Soluções Imobiliária viu a oportunidade de abrir um novo espaço. Eles montaram o projeto e venderam a ideia para os administradores da Leader que estavam alugando o local em cima da loja. Antes mesmo de fechar a Feira, o responsável da administradora entrou em contato com todos os lojistas e disse que iria alocar 100 boxes e ajudou todo mundo, e eu creio que vai dar muito certo!”
O ambiente é situado na Avenida Visconde do Rio Branco, nº 511, Centro – Niterói.
Em contato com a Prefeitura Municipal de Niterói, o órgão informou por meio da Procuradoria Geral do Município (PGM) que o imóvel da Feira de Petrópolis era um local privado que foi doado ao município. Nunca houve qualquer relacionamento do município com os comerciantes da feira. Se houve omissão, esta ocorreu por parte da empresa que administra a Feira (Petro Serrana) que, pelo menos desde dezembro de 2022, sabe da situação e, mesmo assim, continuou a sublocar o imóvel aos feirantes. E além disso, a prefeitura colaborou com os comerciantes ao estender o prazo de saída do local.