Por Arthur Falcão
“Parece outra pessoa”, “o semblante mudou completamente”. São comentários comuns nos perfis das redes sociais de Oberdã Luz, empresário do ramo de próteses capilares afro. Com 289 mil seguidores, ele é uma das referências da área de beleza para negros e cresceu nas redes ao divulgar o antes e depois de seus clientes, mostrando como o cabelo afro impacta na autoestima dos homens negros.
“Eles conseguem se motivar, se alegrar, se incentivar e se reencontrar com o seu eu do passado. Muita gente fala que relembra de quando era mais jovem e isso é muito importante para mim, poder trazer essa memória afetiva, esse conforto para os clientes”, comentou Oberdã.
A alopecia, vulgarmente conhecida como calvície, atinge 45 milhões de brasileiros, de acordo com a Sociedade Brasileira do Cabelo (SBC). Mesmo a queda de cabelo sendo associada a um público mais velho, ela também atinge uma faixa de jovens entre 18 e 25 anos, segundo Oberdã, e apesar de não ser uma doença grave e não ocasionar nenhum problema físico, além da queda de cabelo, ela influencia na autoestima de diferentes formas:
“Eu comecei a perder o cabelo quando tinha 20 anos, na época que eu era da Aeronáutica. Num primeiro momento, não senti tanto impacto, porque lá era comum todo mundo ter a cabeça raspada ou cabelo baixo. Mas depois, para sair, para ir nos eventos, começou a me incomodar bastante. Eu só saía com boné e quando o look (roupa) não combinava eu evitava ir nos lugares, porque eu não me sentia muito confortável”, ressalta o cliente de Oberdã e fundador da Wardrop Music, Guilherme Gun.
Além de Guilherme, outros homens com alopecia também recorrem ao boné como forma de esconder a insegurança quanto à falta de cabelo: “Tudo que eu faço é de boné, sempre de boné. Eu chegava no escritório de boné, até se eu fosse dormir com alguém, usava o boné[…] Eu morro de vergonha.”, relata Erivelton, em um dos vídeos do salão de Oberdã.
De acordo com uma pesquisa da International Society of Hair Restoration, 75% dos homens que sofrem com perda capilar sentem-se menos confiantes, especialmente em relações amorosas, e 60% já foram ridicularizados pela calvície. A mesma pesquisa aponta que o cabelo é um atributo físico que afeta mais a autoestima do que o peso ou a arcada dentária.
A alopecia atinge homens e mulheres de diferentes etnias, mas pessoas racializadas tendem a sofrer mais impactos psicológicos por não fazerem parte de padrões de beleza já estabelecidos e se distanciarem ainda mais desse ideal com a falta de cabelo:
“Quando ele [homem preto] se olha no espelho, a auto imagem dele vai ser afetada, porque ele já não está no padrão de beleza, que é europeu, loiro e dos olhos azuis, e a falta de cabelo agrava a dificuldade para ele ter uma autoimagem saudável. E esse aspecto vai afetar a autoestima, esse sentimento que ele tem sobre si, pelo que ele é como um todo: intelecto, beleza, habilidades, limitações”, ressaltou o psicólogo, negro e especializado em atender a população negra, Tiago Alano José.
Oberdã, além de ser dono de dois salões especializados em cabelo afro, um em São Paulo e outro em Santa Catarina, também ministra cursos e prepara novos profissionais. Entre eles, o barbeiro de Belford Roxo Henrique, que ressaltou ter se encontrado com a profissão desde a primeira vez que participou das aulas: “No começo eu não estava muito ‘ligado’ nessa área, não queria me especializar. Aí meu irmão começou a me chamar (para o curso de formação) e me convenceu a ir e eu comecei a gostar do negócio. É muito bom fazer as pessoas felizes. A reação das pessoas é outra ‘parada’, é incrível. Depois não vira mais trabalho, (a gente) já não faz mais por trabalho”, afirmou.
Os salões de Oberdã atendem cerca de 100 pessoas por semana. Com essa técnica, a prótese capilar dura até 1 ano, a depender dos cuidados a serem seguidos e das manutenções que devem ser aplicadas nesse tempo. Para ele, esse prolongamento no tempo de uso foi o diferencial para o sucesso dessa moda:
“Eu já aplicava a camuflagem capilar, mas era uma técnica instantânea, depois que lavasse o cabelo, sairia. Era mais para um evento […] A galera sentia muita necessidade de durar muito mais tempo. Me cobraram muito por isso e nos dois últimos anos que comecei a aplicar essa técnica de prótese, eu vi que ali era a virada de chave para trabalhar solucionando o problema de calvície dos homens negros no Brasil”.
Mesmo afirmando que as próteses capilares são um importante instrumento para auxiliar na melhora de autoestima dos homens negros e calvos,Tiago Alano ressalta a importância do autoconhecimento: “Pensar na calvície é pensar em construir minha autoimagem para que eu me sinta bem comigo mesmo, porque o meu olhar, me vendo com calvície não vai bater com o padrão de beleza. Então, dificilmente eu vou me sentir bonito com calvície. É um trabalho muito árduo de um homem preto, calvo, conseguir realmente se aceitar. É trabalho dobrado”.