Vítimas de violência sexual contam suas histórias, enquanto órgãos públicos e psicólogos buscam entender as raízes do problema

Por Giulia Navarro

A cada minuto, duas mulheres são estupradas no país. Esse número equivale a uma estimativa de 822 mil casos por ano, dos quais apenas 8,5% chegam ao conhecimento da polícia. Isso de acordo com dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) de março de 2023. Porém, existe um dado ainda mais preocupante: em mais da metade dos casos de violência sexual, as vítimas possuem de 0 a 17 anos.

Esse problema não é novidade. Analisando os números dos Atlas da Violência divulgados pelo Ipea a partir de 2019, é possível ver a predominância de vítimas menores de idade em casos de violência sexual em todos os anos. Ainda assim, os números mascaram uma realidade cruel, pois há uma taxa de cerca de 80% de subnotificação dos casos, de acordo com Fernanda Sixel, conselheira do Conselho Municipal de Política para as Mulheres. Dessa forma, o número real de casos se torna 4 vezes maior.

Fernanda foi coordenadora da CODIM (Coordenadoria de Políticas e Direitos das Mulheres) de Niterói nos últimos 3 anos, deixando o cargo em agosto de 2023. Além disso, ela participou da construção da Sala Lilás, um espaço de exame pericial após abertura de B.O em delegacia comandado pelo Posto Regional de Polícia Técnico e Científica. Ela conta que não existe um perfil para as vítimas, todas as mulheres, independente de raça, classe social e profissão, estão sujeitas à violência. Porém, ao falar de violência sexual existe uma predominância:

“Esses dados de quem passou pela polícia nos revelam que, em média, 30% do atendimento global é violência sexual. Quando você traz esses 30% e vai analisar, 70% deles são crianças e adolescentes. Eles também mostram que o agressor é, principalmente, uma pessoa de confiança dentro de casa, que tem uma relação de poder sobre essa criança, esse adolescente”.

Além disso, Fernanda critica o “imaginário hollywoodiano” de que a violência sexual acontecerá na rua, em um lugar deserto, escuro, em que a mulher é atacada por algum estranho, pois os números provam o contrário.
“A gente teve o caso de um bebê de três meses, a criança mais novinha que nós atendemos. Uma criança de três meses não fez nada, né? Ela não provocou nada assim”, rebate Fernanda Sixel sobre os discursos que tentam justificar a violência sofrida.

Números provam que roupas e comportamentos são apenas discursos que culpabilizam a vítima. Foto: Febrasgo

Os motivos para que as vítimas de violência sexual sejam majoritariamente crianças e adolescentes são diversos e, por vezes, nebulosos, mas a psicóloga Flavia Carielo tenta elaborar.

“O que acontece é que, por ser alguém que a criança confia, ela não entende muito bem o que está acontecendo, ela não se dá conta de que aquilo é uma sexualização precoce, que ela não deveria estar vivendo. Não estou falando apenas de estupro, mas de coisas que são banalizadas na sociedade patriarcal, como uma mão pervertida, pedir para sentar no colo”, explica Flavia, que também afirma que o estupro é cultural, fruto de uma sociedade patriarcal em que o homem pode tudo e não vai ser condenado, enquanto a menina é objetificada antes mesmo de saber o que é isso.

Ela também explica que, em alguns casos, o abusador também sofreu um abuso. “Ele pode ter vivido em uma casa em que outro adulto foi agressivo com ele ou com sua mãe, e ele reedita esse abuso”.

Já a servidora Fernanda Sixel pontua a facilidade de acesso como um dos motivos, visto que, muitas vezes, os agressores são homens que já convivem com a criança ou o adolescente. Outro possível motivo é o uso não apenas da força física, mas do poder que o agressor tem como autoridade e como, por vezes, pessoa de importância para a família. Fernanda explica que o exercício de poder é muito mais fácil de ser estabelecido com uma menor de idade, seguindo a mesma lógica do abuso de incapaz, a exemplo de mulheres alcoolizadas e PCDs. Ela ainda cita mais um facilitador:

“A própria inocência infantil, porque muitas vezes o abuso vem travestido ali de uma brincadeira, de um toque que vai provocar na criança obviamente algum prazer. Então é cruel, porque a criança nem percebe muitas vezes que ela está sendo vítima de um abuso, de uma violência, porque ela pensa ser uma brincadeira”.

Ao cometer uma violência sexual, o abusador furta da menor a sua infância. Foto: Divulgação.

A psicóloga Flávia pontua formas de identificar que a menor de idade sofreu um abuso:

“Ela não vai falar diretamente, mas ela fica agressiva, começa a fazer xixi na cama, muda o comportamento com a comida, a forma como ela brinca. Ela fica muito sensível, então medos que já foram superados voltam, além do medo de figuras masculinas, ela diz que não quer ficar sozinha com eles. É importante que os pais estejam atentos aos sinais, e ouvirem a escola, porque ela é um grande sinalizador do que pode estar acontecendo com a criança e a família não percebe.”

Ela também comenta sobre os sinais que os adolescentes dão, reforçando que, apesar da sociedade não falar muito sobre o assunto, meninas de 12 a 17 anos não são capazes de se defenderem sozinhas e demonstram sua dor de várias formas:

“Com adolescentes os sinais são parecidos, ela vai ficar rebelde, mais agressiva. Ela não vai fazer xixi na cama, mas pode, por exemplo, abusar de álcool e drogas para se entorpecer e suportar o insuportável. A droga, principalmente o álcool, acaba sendo um caminho mais fácil de se anestesiar. Ela também pode desenvolver uma raiva dos pais, porque eles não a protegeram quando deveriam.”

As especialistas também alertam que o abuso traz consequências para toda a vida da mulher, que reedita seu trauma nas demais relações com figuras masculinas. Flávia cita déficit na escola, introversão, dificuldade de relacionamento, transtorno alimentar e compulsão por drogas como repercussões de um abuso na infância. Além de complementar com mudanças no comportamento sexual, seja uma busca desenfreada por sexo ou um desinteresse e desconforto.

A ativista e ex-coordenadora do CODIM Fernanda Sixel aponta a validação por parte da família como um dos grandes desafios para a criança ou adolescente relatar o abuso sofrido:

“Isso é muito comum, porque você está falando de um pai, de um avô querido, de um tio querido, né? De uma pessoa importante para aquela família. Às vezes, financeiramente. E aí aquela fala daquela criança vai desconstruir um familiar. Os adultos muitas vezes pensam que é melhor não ver, é melhor achar que aquela criança está interpretando mal do que comprar essa briga”.

Essa afirmação se confirma ao ouvir o relato de uma vítima anônima de 19 anos que foi estuprada pelo primo aos 17 anos. Hoje em dia, ela ainda precisa conviver com seu agressor, e ninguém de sua família sabe do caso, visto que ele é uma pessoa de influência tanto dentro da família quanto publicamente. O relato completo está no tópico “Depoimentos”.

Espaço infantil no CEAM, Centro Especializado de Atendimento à Mulher em situação de violência. Foto: Giulia Navarro

Identificar e denunciar casos de violência sexual em meninas menores de idade nem sempre é uma tarefa fácil. Porém, existem alguns caminhos que auxiliam o processo.

O primeiro, de acordo com Fernanda Sixel, é o processo de informação sexual nas escolas, respeitando as idades e os limites de compreensão, mas ensinando a perceber os abusos.

“Não é ensinar ninguém a fazer sexo, mas é ensinar para proteger. É trazer para dentro da escola uma educação sexual sobre direitos reprodutivos e da criança perceber seu próprio corpo. Você ensina quais são as partes íntimas, que ninguém pode tocar, só na hora da higiene, os familiares, com a permissão dela. Ensinar isso de forma natural para a criança não é sexualizar. É proteger”, afirma.

Para além da educação sexual, a escola como um todo é fundamental para identificação de abusos, pois se trata de um espaço socializador, em que as crianças aprendem a lidar com outras pessoas e em que agressões podem ser reveladas em conversas, por vezes de forma inocente, mencionando “brincadeiras” feitas por algum parente ou outro adulto. Nesses casos, os professores devem estar atentos aos sinais e alertar o Conselho Tutelar para averiguar.

Além disso, é de extrema importância a educação dos meninos como uma forma de construir uma sociedade mais igualitária. Comentários populares como “segurem suas cabras, porque meu bode está solto”, além de outros comportamentos que ensinam o homem a se relacionar com mulheres de forma irresponsável, não só são desrespeitosos, mas impulsionam o crescimento de homens com a mentalidade de que podem conquistar mulheres e se relacionar com elas a qualquer custo, da forma que bem entenderem.

Após identificada a violência, existem órgãos públicos para os quais o responsável, ou até mesmo o próprio adolescente, pode recorrer, como os já citados CEAM e Sala Lilás, em Niterói. Fernanda Sixel ressalta que a cidade possui há mais de 20 anos um equipamento para auxiliar mulheres em situação de violência:

“Você entra de portas abertas para a equipe técnica te atender, psicóloga, arteterapeuta, jurídico, social… E não necessariamente precisa ter ido na delegacia, se a mulher ainda não se sente preparada para denunciar.”

Outra opção é o CREAS, Centro de Referência de Assistência Social, em que a mulher consegue cesta básica, consegue fazer oficinas, criar uma rede de apoio e acreditar que ela consegue dar uma boa vida às crianças. Dentro dele existem profissionais qualificados que as ajudam a criar autonomia. 

A psicóloga Flávia Carielo coordenou um Centro de Assistência Social e reforça a sua importância:

“Muitas vezes a mulher depende do abusador financeiramente para alimentar essa criança que ele abusa. Isso é um problema social. A classe média alta pode pagar um psicanalista, mas as mulheres da ponta não têm coragem de chegar nas delegacias, as mulheres periféricas são invisíveis na sociedade. E como alguém invisível pode pedir ajuda? Como elas sabem que têm direito à ajuda pública? Quem dá a elas essa informação? Os hospitais públicos, o CRAS e o CREAS são uma porta de entrada. Se for possível, também ter acesso a um psicanalista para curar seus traumas e ressignificar as feridas”.

DEPOIMENTOS

Nós ouvimos relatos de 6 mulheres que sofreram violência sexual em sua infância ou adolescência. Para manter o anonimato, os relatos foram organizados de forma aleatória em ordem alfabética, sem qualquer relação com o nome da vítima.

tima A (21)

“Eu fui passar uma semana na casa da minha tia, tinha acabado de terminar um relacionamento de 1 ano e poucos meses, estava muito mal e queria distrair a minha cabeça. No sábado à noite meu primo saiu de casa e foi para um barzinho. Eu tinha 17 e, como na minha casa não entra bebida, eu estava animada, pois ele me chamou pra irmos juntos. Eu estava segura, pois era alguém que eu confiava demais e meus pais também, então ao meu ver naquela hora não tinha problema algum.

Chegamos no bar por volta de 19h. Saímos de lá 23h e pouca da noite, ele me levou para a casa dele alegando que eu estava “bêbada”, mas tinha plena consciência dos meus atos e da maldade que já cercava ele. Quando entrei no carro já tinha me afastado dele e grudado na porta. Chegamos na casa dele e ele me chamou pra ver um filme e, por ser alguém da família, eu fui, mas sem maldade nenhuma. Tudo começou a partir daí.

Ele veio pra cima de mim, e começou a se aproveitar, pois estava “bêbada” e ele também. Ele fez tudo que queria comigo, teve penetração e até as posições que ele queria eu tinha que fazer. Assim que ele terminou, ele me mandou tomar banho e deitar no sofá, sei que depois disso ele foi buscar a mulher dele no trabalho e não olhou mais na minha cara.

Eu liguei para minha melhor amiga e contei o acontecido, estava dentro do banheiro completamente nua e em estado de choque. Não sabia o que fazer, não sabia pra quem contar, não sabia o que tinha que fazer.

Tomei banho e deitei no sofá, dormi e acordei no outro dia me lembrando de tudo e sentindo nojo de mim mesma. Não contei pra ninguém da minha família pois ele é de total influência dentro e fora da minha casa. Se eu contar, meu pai morre e minha mãe também.

Depois de uns 3 meses do ocorrido, voltei com esse namorado e todas as vezes que tínhamos relação sexual eu lembrava e não conseguia continuar e até hoje não tive coragem de contar para ele o que aconteceu. Hoje em dia sinto medo de homem e não consigo ficar sozinha nem com o meu próprio pai, pois tenho medo dele partir para cima de mim como um monstro. Não tive ajuda psicológica nem nada. Infelizmente eu tenho contato com ele até hoje.”

Vítima B (23 anos)

“Quando eu tinha meus 4/5 anos, sempre era deixada na casa da minha avó, eu e mais 3 irmãs. Minha avó cuidava de todas nós para que meus pais trabalhassem. Com ela morava um primo meu, que na época deveria ter uns 28/30 anos. Minhas irmãs tinham medo de ir para casa dela. Nunca entendi o porquê. Até eu ir.

Esse meu primo era o protegido da vovó sabe? Pois ele foi o primeiro netinho… minha avó precisava dos cuidados dele também.

Quando fui para lá pela primeira vez, lembro da minha avó dizer que era para eu ficar no quarto com ela, pois ele estava assistindo “filme de adulto” . Porém, como minha avó tinha o hábito de dormir à tarde, ele abria a porta do quarto bem devagar e me chamava para comer/brincar… quando cheguei à sala pela primeira vez, lembro dele estar assistindo pornografia. Até hoje ouço a voz dele na minha cabeça falando: vamos fazer uma brincadeira, você tira a roupa e o primo te limpa com a língua. Mas é segredo, tia Bia (minha mãe) não pode saber.  E assim era…

Na primeira vez, contei para minha mãe, ela me disse: ‘filha não conta nunca para sua avó, pois isso irá machucá-la, ela já tem muitos problemas de saúde’. Porém, no outro dia ela me deixou lá novamente. Acredita mesmo que parou? Deitava ao meu lado, passava a mão, dizia que se eu não o tocasse, minha avó iria sofrer. Ele a faria sofrer, que minha mãe não acreditaria em mim. Que eu era nada…. tantas coisas que escrevo isso aos prantos…

Aos 20 anos, em uma conversa com as minhas outras 3 irmãs mais velhas, descobri que ele havia feito o mesmo com todas. E minha mãe encobriu.

Hoje eu sou mãe, e minha filha é de um estupro que aconteceu quando eu tinha 15 anos. Eu fazia cursinho e tinha o sonho de ser a primeira da família a se formar. Eu sempre voltava sozinha para casa e um dia tive a infelicidade de encontrar um homem, que até hoje não sei quem é. Ele me ofereceu carona, disse que me conhecia e era amigo do meu pai, mas eu recusei. Ele me abraçou por trás forçadamente, eu vi algo na mão dele, e quando acordei de novo estava no carro dele. Eu tenho flashes de memória, lembro dele me deixar a uma hora de distância de casa, voltei o caminho andando e me perguntando ‘porque comigo?’. Quando cheguei em casa, contei pro meu pai e ele me levou para a delegacia. Foi assim que eu perdi a minha virgindade. Eu amo minha filha, ela é tudo que eu tenho e eu entendo que não é culpa dela, mas é uma dor que eu carrego. Dos meus 15 aos 18 eu tinha nojo de mim e não confiava em ninguém”.

Vítima C (23)

“Tinha 17 anos quando aconteceu. Eu estava no ponto esperando ônibus pra ir pra uma cidade vizinha, era fim de tarde e o ônibus estava atrasado e como já tinha o costume de pegar lotadas passou uma e eu entrei. O que não reparei na hora é que o cara tava de roupa de praia e minha bateria tava acabando e logo ia desligar, mas não me incomodei. Conforme o caminho foi passando ele falou pra eu não me preocupar porque ele era policial e tava armado. Um certo momento ele pediu pra eu virar pra ele ficar me olhando, ali já comecei a sacar o que tava acontecendo e gelei por dentro, só tava seguindo o fluxo e obedecendo, porque ele disse que estava armado. Até que me pediu pra tocar ele e pegou minha mão à força. Ele diminuiu a velocidade pra fazer uma curva, creio eu que ia fazer o retorno pra algum lugar mais isolado para fazer algo comigo, ali vi uma oportunidade de pular do carro já que o fluxo de trânsito estava tranquilo. Para minha sorte a porta não estava trancada e consegui sair ilesa, sai correndo esperando que alguém parasse pra me ajudar, meu erro foi não ter reparado em placa ou modelo. 

Minha outra história foi quando eu tinha 12 anos, eu tinha um melhor amigo na época, e eu gostava muito dele, era daquele tipo mais velho que dizia que não queria nada comigo pra não estragar a amizade mas fazia joguinhos, sabe? Um dia a gente tava conversando pelo facebook e ele me pediu pra mandar uma foto e eu não quis, foram dias e dias pedindo até que um dia ele soltou AQUELA frase: “você não confia em mim?”. Fui vencida pelo cansaço e pensei “que mal pode dar, confio nele”. Não tinha Twitter na época, mas quando me dei conta a foto já tava rodando por aí, entrei em desespero e meu ex namorado da época falando comigo como se fosse meu amigo, mas acredito que ele estava envolvido. Minha mãe foi chamada na escola, todo mundo já tava sabendo e comecei a receber várias mensagens de pessoas que eu considerava amigo me pedindo foto pelada. Esse amigo tentou me procurar várias vezes depois, ele queria registrar queixa, colocar na justiça, mas eu não quis porque não queria prolongar as coisas, só queria acabar logo com aquilo.”

Vítima D (24)

“Eu tinha 17 anos quando acreditava que estava falando com uma mulher e no final era um homem. Conversávamos pelo Snapchat e um dia ele me mandou foto do meu facebook e de fotos nuas que eu tinha enviado, na época não dava para salvar fotos nesse app. Depois disso ele me mandou mensagens no WhatsApp falando que queria minha ‘submissão’ sexual por uns meses e ameaçando mandar as fotos para todos os homens do meu facebook, incluindo meu pai. Fiquei desesperada e falei com meus pais. Exclui minhas redes sociais, bloqueei ele em tudo. Foi uma das situações mais traumáticas que já tive, fiquei uns bons anos com medo de voltar para a internet. Meu pai entrou em contato com amigos policiais, mas o número era falso, não tinha como rastreá-lo.”

Vítima E (33)

“Eu nasci e fui criada numa cidade relativamente pequena. Tinha feito amizade com uma moradora de um condomínio que tinha a minha idade e eu ia algumas vezes brincar com ela. O porteiro, que ficava na cancela, um dia me falou que eu poderia ir sem ela que ele me deixaria entrar. Só que para eu entrar, ele me parava, pedia para descer da bicicleta e ficava por trás de mim me alisando. Eu ia de maiô e shortinho de lycra. Obviamente eu não entendia muito bem aquilo porque eu só tinha 6 anos. 

Quando tinha 9 anos, fomos à casa da sogra da minha mãe e num dado momento ficou só eu e o namorado dela na sala de TV. Ele me pediu para sentar no colo dele e disse que me daria uma caixa de bombom, mas que eu não poderia contar pra ninguém. Eu neguei, porém ele me forçou e acabou que ele me botou sentada no colo dele. Eu saí e contei para minha mãe, mas ela não me deu credibilidade e disse que ele estava brincando. 24 anos depois, perguntei para minha mãe, que ainda tinha contato com ele, se ela não lembrava que ele tinha abusado de mim e na maior naturalidade ela disse que não. 

Meu terceiro abuso: Eu ficava com um menino e uma certa vez ele me pediu para tirar fotos minhas de calcinha. Eu não vi nenhum problema e fiz as fotos. No outro dia estavam numa página onde a cidade toda ficou sabendo. Eu só tinha 14 anos, não via maldade nas pessoas.

Outra situação que passei com 15 anos foi com um menino que eu ficava. Certo dia ele me levou para a casa de um amigo. Quando chegamos no quarto ele trancou a porta e do armário saíram mais 4 meninos. Não tive como reagir. Fizeram de tudo que possa imaginar e ainda filmaram.

Ainda aos 15 anos, estava na praia com um menino, final de tarde, e apareceu um homem grande armado. Pediu para eu fazer sexo oral nele com a arma na minha cabeça enquanto o menino assistia. Ele só parou quando ejaculou na minha boca e na minha cara. Saímos de lá atordoados. Liguei para a minha mãe, mas para variar ela não soube o que fazer, nem ao menos me consolar.”

Vítima F (18)

“Dos meus 11 aos 14 anos, um homem abusava de mim sexualmente, ele devia ter uns 19. Passava a mão em mim, tentava me beijar. Na época eu não entendia, achava que era uma coisa normal, até gostava dele. Ele era muito amigo da minha família. No meu aniversário de 15 anos ele falou que sabia que eu era apaixonada por ele, que queria transar comigo, várias coisas assim. Eu acabei ficando com ele por 2 anos depois disso. Ele me batia, me tratava mal, me obrigou a transar com ele, e depois falava várias coisas apaixonadas e eu acabava continuando, por dependência emocional. Isso me afetou muito, tinha medo de me relacionar com outros homens, precisei de muita terapia. Hoje em dia ainda tenho que conviver com ele, porque minha família o adora.”

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