Queridinhos da Gen Z, estes formatos de áudio podem ajudar a lidar com as questões emocionais tanto de ouvintes quanto de podcasters

Por Yasmin Ramalho

Os podcasts ganharam muito destaque nos streamings nos últimos anos, sendo ouvidos por mais de 21% da população mundial e 20,4% dos brasileiros, segundo uma pesquisa de 2023 da empresa YouGov. Mas este programa em formato de áudio já circula pela internet há muitos anos.

Embora haja divergências sobre sua criação, os podcasts ganharam mais força no início dos anos 2000, apresentando a possibilidade de os usuários receberem novos episódios em tempo real através de uma tecnologia chamada Real Simple Syndication (RSS), que pode ser lida pelo próprio navegador ou por programas leitores de códigos.

Atualmente, os podcasts estão por todos os cantos e se tornaram um dos produtos preferidos da Geração Z (15 a 24 anos), que foi responsável por 148 milhões de streamings no primeiro semestre de 2023, representando um aumento de 68% em comparação ao ano anterior, segundo um relatório anual de cultura e tendências globais do Spotify.

A plataforma também divulgou no ano passado que oito em cada 10 pessoas que consomem podcasts em seu serviço ouvem estes produtos em dias úteis, o que representa 78% dos ouvintes, um número 3,5 vezes maior que os 22% que o fazem no final de semana.

As temáticas são variadas: educação, cultura, religião, variedades, saúde, bem-estar. Não faltam opções para quem quer se aprofundar em um novo assunto ou apenas busca por um passatempo enquanto vai para o trabalho.

A advogada Débora Moraes ouve podcasts de notícias todas as manhãs para se atualizar sobre o país e o que acontece no mundo. A pernambucana de 30 anos conta que também encontrou conforto em produtos que abordam questões de saúde mental, relacionamentos e autoconhecimento. 

“Acredito que procuro esses programas para tentar aprender formas de me fazer sentir bem, de um modo geral. Escutar esses podcasts também me traz um sentimento de identificação, que muitas vezes não temos quando passamos por algo ruim”, disse.

O aspecto terapêutico dos podcasts

Foto:  Arte produzida por Victoria Gomes, idealizadora do podcast Vic que disse (@vicquedisse)

Ao relatar experiências pessoais e temáticas que focam em processos de autoconhecimento, muitos podcasters capturam a atenção dos ouvintes, proporcionando uma espécie de alívio emocional.

É o caso da estudante de psicologia Victoria Gomes, que através de seu podcast Vic que disse, compartilha processos, vivências e histórias.

“Eu acredito que o podcast foi a maneira mais confortável que encontrei de trabalhar com a minha criatividade e de me expressar. Acredito que toda a forma de se expressar vai te ajudar a assimilar suas emoções e seus sentimentos”, conta.

Em episódios que abordam histórias de amor, amizade, sexualidade, religião, autoestima e outros, Victoria cria uma atmosfera de proximidade com seus ouvintes, que regularmente expressam um sentimento de familiaridade por sua fala acessível e relatos de fácil identificação.

A podcaster conta que tem recebido histórias de seus seguidores nas redes sociais e que lançará um novo quadro no segundo semestre de 2024, no qual seus ouvintes também poderão compartilhar experiências e processos pessoais.

Este efeito de entendimento e relaxamento ao falar sobre determinadas temáticas também é contemplado pelo estudante de Física André Limas, que tem dois podcasts sobre futebol americano.

“Eu precisava de um passatempo que eu gostasse durante a semana, porque basicamente estava vivendo em função da faculdade e das aulas que dou como estagiário. Então encontrei na criação de conteúdo esse porto seguro”, relatou.

O estudante de licenciatura da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) contou que gravar podcasts ajudando as pessoas a entenderem mais sobre a modalidade, informar resultados e fazer análises sobre jogos lhe proporciona um sentimento de satisfação.

“Foi o nicho onde me encontrei. Nele eu consegui descobrir minhas habilidades, me senti melhor e mais confiável em relação às minhas habilidades, aumentou minha autoestima. E para finalizar, me sinto uma pessoa mais tranquila e tive uma redução na carga emocional também”, detalhou.

Para a psicóloga Jandira Viana, este formato de produto é uma fonte de informação de fácil acesso e confortável para o ouvinte.“O primeiro ponto é avaliar o grau de credibilidade que pode ser dado àquele podcaster ou ao convidado. Dependendo do tema e de quem fala, pode, sim, levar a um alívio emocional ou a uma reflexão para a necessidade de buscar uma ajuda profissional”, diz.

A busca por ajuda especializada

Há 37 anos atuando como terapeuta, Jandira conta que esta é uma temática abordada entre seus atendimentos.

“Já ouvi relatos de pessoas que conciliam a atividade laboral e a escuta de podcast ou que no trajeto de casa-trabalho-casa também ouvem e desta maneira se sentem com menos estresse, por exemplo”, conta ela.

A profissional afirma que a escuta de podcasts centrados em questões de saúde mental e relacionamentos pode funcionar como um “despertar para a necessidade ou a importância de fazer uma terapia”, uma vez que pode ajudar a identificar sinais e características das situações que a pessoa esteja passando. Mas também fez um alerta para a necessidade de avaliar o grau de credibilidade que pode ser dado àquele podcaster ou ao convidado.

“Não podemos generalizar. Por ser uma fonte de informação tem o seu valor, por ser acessível também é muito bom”, afirmou.

Vinicius Costa, de 28 anos, conta que começou a consumir podcasts há 5 anos através de psicólogos que abordam temáticas como relacionamentos, autoconhecimento e saúde mental.

“Comecei a ouvir de uma forma muito despretensiosa, mas teve muita serventia para ter conhecimento das questões de saúde mental, a forma de você se relacionar com outras pessoas, questão do bem-estar, comportamento”, relata. Buscando assuntos específicos de acordo com o que está sentindo, o ouvinte diz que tem preferência por programas feitos por especialistas no assunto, mas também ouve outros produtores de conteúdo.

“Não sei se é para validar o que eu sinto, mas talvez para compartilhar o que eu sinto. Entender que isso acontece com outras tantas pessoas e algumas outras questões que são tão comuns à sociedade”, conta.

Seja qual for a motivação dos assuntos abordados pelos podcasters ou procurados pelos ouvintes, Jandira deixa uma mensagem importante:

“Busquem ajuda sempre que sentirem um desconforto contínuo e/ou crescente que interfere significativamente em alguma esfera da sua vida. Por exemplo: quando você não sabe o que deve mudar e como deve mudar, em um momento de luto, de grandes mudanças de vida, entre tantos outros motivos”, reforçou a psicóloga.

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