O “showbiz”, ou indústria do entretenimento, é responsável pela movimentação de muito capital mundo afora – e vários setores, como o do turismo, se beneficiam disso

Por João Pedro Sabadini

Um levantamento feito pela Associação Brasileira de Produtores de Evento (Abrape) mostra que o setor de eventos registrou um aumento de 46,6%, sendo consolidado como o maior gerador de empregos no país em 2023. Para se ter uma ideia, apenas os três shows da cantora Taylor Swift injetaram R$ 240 milhões em São Paulo, segundo informações do Centro de Inteligência da Economia do Turismo (Ciet). O Lollapalooza, por sua vez, movimentou cerca de R$ 931,3 milhões de forma direta e indireta, conforme relatório do Observatório de Turismo e Eventos da Cidade de São Paulo (OTE). A pesquisa aponta ainda que cada turista gastou cerca de R$ 3.499,02 na cidade durante o festival. Já o The Town, à época, tinha estimativas de levar mais de 500 mil pessoas ao longo dos cinco dias de evento, com 60% do público sendo de fora da cidade: com isso, a prefeitura previa uma movimentação de R$ 1,7 bilhão em diversos setores na economia, além da geração de 19 mil empregos.

Mesmo ocupando apenas a 26ª colocação global no ranking do Índice de Desenvolvimento de Viagens e Turismo, do Fórum Econômico Mundial, o Brasil sempre é um destino que chama a atenção de viajantes de diversos lugares. O que falar do calçadão de Copacabana e do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, ou do Museu de São Paulo (MASP) e do Parque Ibirapuera, na capital paulistana? Mas definitivamente não são só os gringos que se encantam pelas mais variadas belezas de nosso país. Quem nunca teve vontade de largar o que estava fazendo e pegar um voo com destino à praia de Porto de Galinhas, em Pernambuco, ou Jericoacoara, no Ceará, que atire a primeira pedra.

Para além do lazer e do turismo externo (visitantes que vêm de fora do país), outros tipos de turismo interno (circulação dentro do Brasil) também têm um papel significativo para o setor. O turismo de negócios, por exemplo, movimenta milhões de pessoas (e reais) anualmente, em trechos como a ponte aérea Rio – São Paulo, a mais agitada da América Latina, em viagens feitas exclusivamente para questões de trabalho. Outros exemplos são o turismo religioso (Aparecida, no estado paulista) e o turismo de consumo (praticamente todas as regiões metropolitanas do país).

No entanto, há um outro tipo que vem se destacando, especialmente nos últimos dois anos: o turismo de eventos, impulsionado por grandes shows e festivais musicais.

Velho conhecido do público brasileiro, festivais como o Lollapalooza atraem multidões a cada edição. Foto: Reprodução/Instagram Lollapalooza

Para São Paulo, 2023 foi um ano agitadíssimo nesse assunto. A capital recebeu shows de mais de 50 nomes internacionais, incluindo gigantes da indústria musical, como Taylor Swift, Paul McCartney, Coldplay, The Weeknd, Imagine Dragons, Roger Waters, Red Hot Chilli Peppers, RBD e Alanis Morissette. Além de apresentações solo, a cidade foi palco do já clássico Lollapalooza – que acontece anualmente no primeiro trimestre -, e de outros festivais iniciantes, como o Primavera Sound e o estreante The Town.

Sendo assim, o resultado não poderia ser diferente: para o período do The Town, a ocupação de hotéis passou dos 85%, de acordo com Associação Brasileira da Indústria Hotéis São Paulo (ABIH-SP), mais de 25% a mais do que no mesmo período de 2022. Também segundo a ABIH, para o fim de semana do Lollapalooza – com público de 240 mil pessoas -, a taxa de ocupação ficou em 65%.

A estudante de publicidade Isis Terciano foi uma dessas pessoas. Moradora de Niterói, ela conta que aproveitou a ocasião para passear na capital paulista. “Eu ia só para o show do Bruno Mars no festival, mas me programei para ficar o feriado todo lá junto de alguns amigos”. Isis ressalta que nem todos do grupo foram ao The Town, mas que a viagem só aconteceu em função disso. “Alugamos um apartamento e ficamos quatro dias ‘turistando’ pela cidade. O que seria só um bate-volta meu para o show acabou virando uma viagem de amigos”.

Estreante, o The Town levou mais de 500 mil pessoas ao longo dos cinco dias de festival. Foto: Reprodução/Instagram The Town

Osiris Marques, professor e pesquisador da Faculdade de Turismo e Hotelaria da Universidade Federal Fluminense (UFF), destaca o peso de tais eventos para as finanças da cidade. “Quanto maior a atração de turistas, maior o impacto econômico, pois mais recursos são gerados na economia daquele destino”. Ele ainda diz que os principais desafios para internalizar os benefícios econômicos tem a ver com os próprios bens consumidos pelos turistas que participam do evento. “Se esses produtos são produzidos internamente no destino em que acontece o show, aumenta a chance de os benefícios econômicos ficarem na economia”, afirma Marques.

No Rio de Janeiro, o cenário não é diferente. Em 4 de maio deste ano, a Cidade Maravilhosa recebeu a popstar Madonna em um show que reuniu mais de 1,6 milhão de pessoas na Praia de Copacabana, conforme cálculos da prefeitura. A apresentação, inclusive, entrou na lista dos cinco maiores públicos da história.

Com isso, mais uma sequência de números expressivos: antes ainda do anúncio oficial, a procura por hospedagens na cidade já havia crescido 30%, de acordo com um levantamento realizado pelo Sindicato dos Hotéis e Meios de Hospedagem do Rio de Janeiro (HotéisRio). Com a confirmação do evento, a empresa de aluguel de imóveis por temporada Airbnb registrou um aumento de 1.000% em buscas no site nos dias depois. Segundo o site Booking.com, o Rio de Janeiro foi o destino doméstico mais buscado por brasileiros na plataforma para o período de 3 e 5 de maio (fim de semana da apresentação), e a quinta cidade mais buscada por viajantes globais nas Américas.

Para a semana do show, a previsão de arrecadação era de impressionantes R$ 293,4 milhões impulsionados pela presença da artista estadunidense. Dentre esse valor, R$ 42,8 milhões eram relativos à hospedagem, alimentação, compras e outras atividades de lazer dos cerca de 15 mil visitantes internacionais que desembarcaram na cidade, conforme a Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur). A Secretaria Estadual de Turismo estima que a cidade tenha recebido cerca de 150 mil turistas para o evento.

Praia de Copacabana momentos antes de Madonna subir ao palco. Foto: Reprodução/Instagram Riotur

Recepcionista de um hotel de luxo do Rio de Janeiro, Fernando Fernandes avalia o impacto de tais eventos para o setor hoteleiro, especialmente em períodos menos procurados, como o da apresentação da Madonna. Em plena baixa temporada, a rede hoteleira chegou a 96% de ocupação.

“Um grande evento sempre vai impactar no setor de turismo e hotelaria. O turismo é um fenômeno sazonal e quem trabalha no meio entende que temos épocas de alta e baixa. Festivais como o Rock in Rio são dispostos em meses de baixa justamente para tentar balançar a sazonalidade. Shows e festivais são atrações interessantes porque geralmente vão atuar em todos os setores do trade turístico, até mesmo hotéis de negócios, que são pensados para um público diferente do público que procura esses eventos, são afetados, porque a demanda é muito grande”, diz Fernandes.

Alterações econômicas sempre vão acontecer em todos os setores produtivos – é algo inato à própria estrutura de produção. Sejam por mudanças previstas, como a escolha de uma nova cidade para ser a queridinha das atrações, sejam por mudanças imprevistas, como uma pandemia no meio do caminho, o “showbiz” – e tudo que é afetado por ele – vai se adaptar a futuras transformações. Afinal de contas, o show não pode parar.

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