Por Gabriella Marinho

A transformação do Twitter, agora rebatizado como X, em uma das principais fontes de informações para os jovens nascidos entre 1990 e 2010, representa uma mudança significativa no panorama das mídias sociais e do consumo de notícias. Segundo a Digital News Report 2023, pesquisa anual sobre o consumo de informação, realizada em seis continentes pelo Instituto Reuters, a grande maioria das pessoas com menos de 35 anos usa as redes sociais, mecanismos de pesquisa ou agregadores de conteúdos para ler notícias.

Essa tendência revela não apenas o poder da plataforma em disseminar informações rapidamente, mas também os desafios e implicações que essa preferência acarreta. Ainda de acordo com a pesquisa do Instituto Reuters, o público afirma focar mais em comentários e compartilhamentos de celebridades e influenciadores do que a jornalistas em redes como TikTok e Instagram. Contudo, no Twitter, a presença dos jornalistas nas notícias do momento é fundamental para as conversas.

Carlos Eduardo Maia, motorista de aplicativo de 24 anos, comenta sobre o dinamismo que o Twitter traz ao dia a dia:

“O Twitter é rápido, prático e muito fácil de utilizar. Gosto da praticidade em saber de notícias em tempo real por pessoas reais, como por exemplo, quando um jornalista ou comentarista esportivo traz notícias sobre o meu time, é muito rápido. Ali, já inicia uma grande conversa com outros torcedores, faz a gente se sentir parte da notícia. Ou, quando ocorre algum incidente com motoristas de aplicativos em algum lugar do Rio, por exemplo, eu fico sabendo rapidamente por lá e ainda posso participar das conversas com pessoas que estão acompanhando de perto o que está acontecendo”, destacou Carlos.

O motorista acrescentou ainda que acompanha jornais esportivos pela TV, mas é no Twitter que recebe as informações primeiro: 

“Eu assistia quando criança o Jornal Nacional com a minha avó. Acho que por isso não larguei totalmente os telejornais. Gosto de assistir jornais esportivos e quadros esportivos dentro de outros jornais também, é uma coisa mais séria, confiável, e eu gosto disso. O que acontece é que normalmente, o que eu vejo nos jornais, eu já vi antes pelo Twitter, já li a opinião de comentaristas e de outras pessoas também”, comentou.

Os veículos hegemônicos (ou tradicionais, comumente assim chamados), fazem parte da sociedade brasileira. Um exemplo de como um jornal pode impactar a cultura de uma nação inteira, é o Jornal Nacional (JN), considerado o principal veículo jornalístico do país.

De acordo com o levantamento da Kantar Ibope Media, no Painel Nacional de Televisão (PNT), o jornal subiu mais de 10% na audiência no período entre janeiro e 27 de março de 2023, em comparação a 2022. Os dados revelam ainda que, a cada dez domicílios com TVs ligadas, quatro estão no JN no horário em que ele é exibido.

No ar desde 1969, o JN segue sintonizado nas televisões brasileiras, transcendendo o tempo e contribuindo para a formação de opinião e acesso à informação da população.

Porém, apesar da marca sólida que o JN construiu com os anos e defende até os dias de hoje, é preciso compreender como as redes sociais se estabelecem como fontes de notícias em paralelo à fontes mais tradicionais, principalmente entre os jovens da Geração Z. O Twitter, ou X, é um importante exemplo quando analisamos os impactos positivos e negativos dessa transformação.

O papel do X na formação da percepção dos jovens

Segundo Iris Evangelista, publicitária especialista em comunicação para redes sociais, o Twitter se tornou um espaço de grande expressão entre os jovens: 

“O Twitter, ou X, como é hoje, é mais um canal de comunicação disponível. Ele no início em 2006 foi criado para ser um “sms da internet”, mas ao longo dos anos foi tomando uma performance muito autoral, o que considero fundamental para os jovens na sua formação da percepção sobre notícias e eventos atuais. Porém, é sempre bom analisar cada notícia, cada informação, e os veículos de mídia tradicionais ainda oferecem análises mais aprofundadas e filtros de verificação importantes, diferente do twitter”, destacou Evangelista.

É importante ressaltar que, segundo a pesquisa Digital 2023, da Datar Reportal, o atual X ocupa 8º lugar entre as 15 redes sociais mais utilizadas no Brasil. De acordo com a pesquisa, considerando que o Brasil abrigava mais de 180 milhões de usuários de internet em janeiro de 2023, sendo este público mais de 10% de jovens entre 18 e 24 anos, é possível compreender o porquê as redes sociais vêm sendo dominadas pela juventude.

Após anos sendo um campo aberto de disseminação de notícias, expressões e até mesmo desabafos pessoais de forma instantânea, o Twitter evoluiu para uma rede onde os jovens podem acessar rapidamente uma diversidade de perspectivas e se engajar de maneira interativa com as notícias. Por isso, especialistas explicam que a rede se destaca pela rapidez e pela capacidade de proporcionar um fórum para discussões em tempo real.

Mateus Queiroz, pesquisador e mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Mídia e Cotidiano da UFF, ressalta que o Twitter se consolidou como a plataforma que permite aos usuários descobrirem o que está “acontecendo agora”. Ele explica que a natureza rápida e imediata do Twitter faz com que seja frequentemente o primeiro meio onde as notícias são divulgadas e discutidas, especialmente entre os jovens:

“Nos últimos anos, estudos apontam o crescimento do consumo de mídia para notícias nas redes sociais e o Twitter, por sua vez, é o grande destaque no cenário brasileiro. Além disso, historicamente, os jovens são um dos principais públicos do Twitter, o que justifica o posicionamento do Twitter em ser a rede social do “agora”. Provocando um intenso fluxo de informações, inclusive de notícias, a rede utiliza de ferramentas, como o Trending Topics, para que os usuários vejam certos tópicos ou notícias que estão em alta. Portanto, no Twitter, os jovens são capazes de descobrir as últimas notícias, debater sobre elas e acompanhar os comentários”, pontuou Queiroz.

Estratégias dos jovens no uso do X

Os jovens utilizam várias estratégias para se manterem atualizados no X. Iris Evangelista menciona que seguir perfis de notícias confiáveis, jornalistas reconhecidos, celebridades e especialistas em diversas áreas são algumas das táticas comuns: “Algumas estratégias são acompanhar hashtags específicas relacionadas a eventos ou tópicos de interesse para participar de conversas em tempo real e descobrir novas informações compartilhadas por outros usuários, como também na interação de threads de tweets para trocar informações”, pontuou a especialista.

Créditos: Instituto Infantojuvenil

Queiroz observa que os recursos técnicos do X, como o limite de caracteres e os Trending Topics, facilitam um fluxo rápido de informações. Isso, combinado com a aplicação de algoritmos que destacam conteúdos relevantes, faz do X uma plataforma eficaz para a disseminação rápida de notícias. Ele explica: 

“As características técnicas do Twitter são capazes de limitar ou possibilitar determinados usos da plataforma. Tais recursos ou medidas são gerenciadas pela própria empresa, que busca a fidelização dos usuários para a geração de receita. Alguns movimentos são visíveis, como a mudança do número máximo de caracteres permitidos em um tweet e a criação dos Trending Topics. Outros são invisíveis, como a aplicação de algoritmos e a retenção de dados. Por sua vez, os usuários também são capazes de alterar os rumos da empresa. Logo, o Twitter passa a ser um meio rápido de fluxo de informações quando há a adesão por parte dos usuários e a aplicação de estratégias da própria empresa para tal.

Impactos da interação e compartilhamento no X

Segundo números publicados na pesquisa Digital 2023, da Datar Reportal, mecanismos publicitários do Twitter indicam que a rede tinha 24,30 milhões de usuários no Brasil no início de 2023, o que significa que o alcance de anúncios da plataforma no Brasil era equivalente a 11,3% da população total na época. Essa análise contribui para a compreensão de que a interação constante e o compartilhamento de conteúdo no X influenciam significativamente a maneira como os jovens são alcançados pelos anúncios, absorvendo e interpretando suas informações.

Embora apresentem, na maioria das vezes, mensagens comerciais, os anúncios também podem funcionar como importantes instrumentos de veiculação de notícias de forma ainda mais ampla e rápida, afinal, são uma maneira monetizada de fazer com que qualquer informação chegue a um público ainda maior.

Evangelista destaca que, embora as informações no X/Twitter sejam imediatas e fragmentadas, essa dinâmica pode desenvolver habilidades críticas nos jovens, incentivando-os a questionar e verificar o que leem.

Por outro lado, Queiroz alerta para os perigos de um consumo superficial de notícias, exacerbado pela natureza breve dos tweets e pelo impacto dos algoritmos. Ele argumenta que, muitas vezes, os usuários são impactados apenas por títulos ou leads, sem buscar informações mais aprofundadas, o que pode levar a percepções errôneas e enviesadas.

Da análise ao cotidiano

Dados levantados pelo time de Marketing Insights & Analytics do Twitter, em 2021, apontam que os nascidos entre a segunda metade dos anos 1990 e o início dos anos 2010 adotaram o Twitter como uma dos maiores meios de se manter informado. Cerca de 81% dos entrevistados optam pela plataforma para saber o que está acontecendo.

A preferência dos jovens pelo X como fonte de notícias reflete uma mudança na maneira como as informações são consumidas na era digital. Enquanto a plataforma oferece acesso rápido e uma diversidade de perspectivas, também traz desafios significativos, como a disseminação de fake news e a superficialidade na compreensão das informações. As eleições de 2018, a pandemia e até mesmo o debate sobre a nova PL 1904, que se refere à penalidades sobre o aborto em caso de estupro, são alguns dos exemplos de discussões que reverberaram uma onda de fake news nas redes sociais.

Especialistas da área divergem sobre vários pontos do tema, mas tanto Iris Evangelista quanto Mateus Queiroz concordam que é essencial um equilíbrio entre a rapidez e interatividade do X e a profundidade e verificação dos veículos de mídia tradicionais, para que os jovens possam formar uma percepção mais precisa e crítica da realidade ao seu redor.

Créditos: ALAMY/BBC
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