Por Hugo Góes
A Zona Oeste do Rio de Janeiro é a região mais populosa da cidade. De acordo com o Censo 2022, a área tem cerca de 2,9 milhões de habitantes. Porém, a população sofre com questões básicas como a dificuldade de locomoção não só para outros pontos do município, mas também entre os bairros vizinhos. Apesar de ser a principal usuária do BRT, outros meios de transporte não acompanharam a evolução de outras áreas da cidade e quem paga esse preço são os moradores do local.
O Rio de Janeiro respirou grandes eventos: Em 2013, a Jornada Mundial da Juventude e a Copa das Confederações de futebol masculino. No ano seguinte, a Copa do Mundo da mesma modalidade. Por fim, em 2016, a cidade foi sede das Olimpíadas. Com todos esses momentos, a expectativa – e a promessa – era de que a cidade pudesse se estabelecer e investir em diversas áreas, como a de mobilidade urbana.
Uma nova linha de metrô foi inaugurada. A linha 4 ligou a Zona Sul até a Zona Oeste, com uma estação terminal no Jardim Oceânico, na Barra da Tijuca. Porém a possibilidade de mais bairros da região receberem estações de metrô nunca saiu do sonho.
No caso do transporte rodoviário, a chegada de melhorias para os moradores também não passou de sonho. Em 2014, por exemplo, o então prefeito Eduardo Paes afirmou que até o final do seu segundo mandato, em dezembro de 2016, toda a frota de ônibus estaria climatizada. A promessa não foi cumprida, e até hoje, quase oito anos depois, os passageiros seguem sofrendo com o calor e a falta de estrutura dos coletivos.
Paloma Souza é moradora de Campo Grande e trabalha como vendedora em uma loja de utensílios domésticos em Madureira. Ela diz usar pouco os ônibus, mas segundo ela, quase nunca os coletivos têm ar-condicionado funcionando. Ainda de acordo com a vendedora, quando eles funcionam, “sempre há goteiras pelo teto que escorrem direto nos bancos onde os passageiros estão sentados”, afirma.
Quem também mora em Campo Grande, mas trabalha no centro da cidade é Raphaela Miranda. Ela diz levar cerca de seis horas diariamente no transporte público, e também destaca as péssimas condições dos ônibus da cidade, em especial a linha que ela utiliza, a 771 (Campo Grande x Coelho Neto). “Os ônibus em geral estão bem precários. Bancos soltos, raramente com ar-condicionado. Já vi ônibus com ninhos de baratas dentro. Pagamos um preço muito alto para um serviço que tem poucos carros. Eu preciso sair com uma hora de antecedência de casa para evitar atrasos”, destaca.
O BRT, inaugurado em 2012, recebeu uma renovação de frotas em 2023. Todas as linhas foram, gradativamente, substituindo os antigos por estes novos carros. Para Luiza Lima, que mora em Pedra de Guaratiba, a mudança chegou no início de 2024 e foi, em partes, positiva. “Agora tem ônibus para sair do bairro, em mais horários, e o BRT, após a renovação da frota, também se tornou um lugar muito melhor”, ressalta. Contudo, ela afirma que o intervalo entre cada partida poderia ser menor, diminuindo o número de passageiros por articulado, já que em certos momentos “você se sente claustrofóbica dentro do BRT”.
Luiza diz que tem o privilégio de, por vezes, usar o ônibus executivo – os famosos “frescões” – para se locomover na cidade. Porém, explicou que o custo benefício nem sempre é dos melhores “Quando está muito quente, o ar-condicionado desses ônibus não tem força suficiente para deixar o ambiente bom. Eu sei que vou pegar um ônibus que teve um aumento de preço absurdo, hoje custa R$23,00, e não vai estar tão fresco”, reclamou.
De acordo com o Sistema Municipal de Informações Urbanas (Siurb), os trens carregam, diariamente, cerca de 237 mil passageiros, boa parte na zona oeste. Este modal é mais um que frequentemente apresenta problemas que impactam diretamente na vida do morador da região.
Paloma usa o trem para chegar ao trabalho, e apesar de relatar somente um atraso nos horários desde que conseguiu um novo trabalho, há cerca de dois meses, ela reclama da conservação e da lotação das composições. “A ida é mais tranquila, já o retorno para casa, por volta das 20h, é sempre lotado [foto]. Apesar de ter ar, muitos trens não têm cadeiras nos assentos. Alguns passageiros até levam seu próprio banco”, relatou.
Raphaela Pereira morou na Zona Oeste, em Padre Miguel, sua vida toda, mas viu a necessidade de se mudar devido aos problemas que enfrentava diariamente no transporte público. “Meu computador estava dentro da minha mochila e quase quebrou porque o trem estava superlotado. Essa foi a gota d’agua para mim”, lembrou.
A professora de História hoje mora em Cascadura e acredita que pequenos detalhes podem fazer do transporte coletivo do Rio de Janeiro um ambiente melhor. “Aumentar a oferta de trens, porque são poucos e com intervalos irregulares. Além disso, fiscalização maior nos vagões femininos, porque nós mulheres precisamos de segurança. Eu mesma já vi casos de assédio no trem. E com relação também à tarifa. O preço dos transportes públicos aqui, seja metrô, trem ou ônibus, é um absurdo para a qualidade do serviço”, completou.
A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da Secretaria de Estado de Transporte e Mobilidade Urbana questionando sobre a possibilidade do metrô chegar a novas regiões da Zona Oeste. Por e-mail, a resposta foi que a Setrans “trabalha para divulgar, em breve, licitação para contratar a empresa que vai elaborar os estudos sobre a ampliação do sistema metroviário. O chamamento público prevê a análise da viabilidade técnica, jurídica, econômica e ambiental para a implantação dos trechos Praça XV x Araribóia x Alcântara e também Jardim Oceânico x Alvorada x Recreio dos Bandeirantes, estabelecidos no Plano Diretor Metroviário (PDM). No momento, a Setram atua para realizar ajustes e atender aos apontamentos de natureza meramente técnica que o Tribunal de Contas do Estado havia feito ao processo licitatório divulgado anteriormente”.
Até o fechamento desta matéria não obtivemos resposta da Secretaria Municipal de Transportes sobre a questão da climatização e do preço da passagem dos ônibus nem da Supervia sobre o estado de conservação e a irregularidade nos intervalos dos trens.