Por Gabriella Marinho
O trabalho remoto, antes um sonho distante para muitos, tornou-se uma realidade global acelerada pela pandemia de Covid-19. Milhões de pessoas, de repente, se viram livres das longas horas de deslocamento para o trabalho, trocando o trânsito pelo conforto de casa. Essa mudança transformou não só a rotina de trabalho, mas também trouxe impactos significativos na qualidade de vida dos profissionais e no mercado como um todo, conforme apontado por um estudo recente da University of South Australia.
Segundo a especialista em Recursos Humanos e professora em Gestão de Pessoas, Aline Bárbara, o “alívio” de não precisar enfrentar horas de trânsito e estresse é o principal motivador dessa nova realidade do mercado de trabalho. “ Sem o trânsito longo e sem a necessidade de sair com mais de duas horas de antecedência, as pessoas viram que o modelo remoto podia ser muito vantajoso e produtivo, e esse é o grande benefício que contribuiu para que o modelo remoto fizesse profissionais mais engajados e motivados”, destacou.
A Transformação do Bem-Estar
De acordo com o estudo, o trabalho remoto está diretamente ligado a melhorias na saúde mental e física. A pesquisa, que começou antes da pandemia e foi concluída durante o período de quarentena, revela que as pessoas que trabalham de casa dormem em média meia hora a mais por dia. Além disso, a flexibilidade para escolher trabalhar remotamente foi identificada como um fator positivo para o bem-estar geral.
Para Aline, o trabalho remoto é crucial para equilibrar produtividade e bem-estar. “O novo modelo permite que os colaboradores ajustem seus horários e ambientes de trabalho para atender melhor às suas necessidades pessoais”, comentou a especialista.
Vantagens e Desafios do Trabalho Remoto
O estudo da University of South Australia também levanta questões sobre os desafios do trabalho remoto. Embora a flexibilidade e o conforto de trabalhar em casa sejam amplamente benéficos, há preocupações sobre o impacto na coesão da equipe e nas oportunidades de crescimento profissional. A interação social, fundamental para a construção de laços e colaboração, é mais difícil de ser reproduzida em um ambiente virtual.
Apesar desses desafios, o estudo conclui que o desempenho e a produtividade dos trabalhadores se mantêm estáveis, ou até melhoram, no home office. Aqueles que trabalham em tempo integral remotamente ou em um modelo híbrido demonstram maior satisfação no trabalho e um bem-estar geral elevado.
Estratégias e práticas podem ser tomadas para que a experiência com o trabalho remoto seja cada vez mais satisfatória. Aline pontua que iniciativas como manter canais de comunicação abertos e promover interações regulares, investir em programas de treinamento e desenvolvimento e implementar sistemas de reconhecimento e recompensas para destacar comportamentos que refletem a cultura organizacional são ações importantes e que podem ser tomadas tanto pelos colaboradores quanto pelas empresas para garantir um ambiente de trabalho produtivo e humanizado, mesmo através das telas.
A Realidade no Brasil e no Mundo
O fenômeno da felicidade no trabalho remoto não é exclusivo da Austrália. Nos Estados Unidos, uma pesquisa da plataforma Frameable indica que a maioria dos trabalhadores prefere o modelo híbrido, com uma combinação de dias no escritório e em casa. No Brasil, a satisfação com o home office também cresceu significativamente, passando de 64% em 2020 para 73% em 2021. Além disso, 81% dos profissionais brasileiros consideram-se tão produtivos ou mais produtivos trabalhando remotamente.
No entanto, a resistência ao home office ainda é uma realidade em algumas empresas, especialmente devido à mentalidade de gestores que valorizam o controle direto sobre os funcionários. Em entrevista à Central Única dos Trabalhadores (CUT), a pesquisadora Sylvia Hartmann, da Universidade de São Paulo, destacou que essa mentalidade impede a adoção mais ampla do trabalho remoto, apesar dos benefícios evidentes.
O Futuro do Trabalho
À medida que o mundo se adapta a novas formas de trabalhar, o trabalho remoto se consolida como uma opção viável e desejada por muitos profissionais. O estudo da University of South Australia destaca que, quando os trabalhadores têm a liberdade de escolher, o trabalho remoto pode ser uma ferramenta poderosa para promover um ambiente de trabalho mais saudável e produtivo. No entanto, para que isso seja uma realidade duradoura, será necessário um equilíbrio cuidadoso entre flexibilidade e a manutenção da coesão e colaboração entre as equipes.
Além disso, vem surgindo um movimento pelo retorno ao trabalho presencial, pauta que gera constantes debates dos mais diversos pontos de vista nas redes sociais, especialmente, no LinkedIn. Aline destaca: “Esse movimento está sendo observado com cautela. Embora algumas empresas argumentem que o trabalho presencial melhora a colaboração e a inovação, há um consenso crescente de que a flexibilidade será uma característica essencial do futuro do trabalho. A tendência parece apontar para modelos híbridos, que combinam o melhor dos dois mundos: a colaboração e socialização do escritório com a flexibilidade e autonomia do home office”.
O futuro do mercado está sendo moldado pela capacidade das empresas de se adaptarem às rápidas mudanças sociais, influenciadas principalmente pelo cenário pós-pandemia somado a atual geração de profissionais. A Geração Z está formando um mercado preocupado com qualidade de vida, e não só com o salário oferecido. As organizações que conseguirem oferecer essa flexibilidade estarão melhor posicionadas para atrair e reter talentos em um cenário cada vez mais competitivo.