Por Alexandre Melo
O Clube de Regatas do Flamengo anunciou no dia 31de julho, a aquisição do terreno do Gasômetro na zona portuária do Rio de Janeiro. O terreno, de 87 mil metros quadrados, pertencia a um fundo de investimentos gerido pela Caixa Econômica Federal, mas em junho deste ano foi desapropriado pela prefeitura do Rio para que o Flamengo pudesse construir o seu estádio.
O projeto visa não apenas proporcionar uma nova casa para o clube carioca, mas também revitalizar uma área historicamente importante da cidade, a Zona Portuária, que tem passado por um processo de revitalização nos últimos anos. Segundo a Prefeitura do Rio de Janeiro e membros da diretoria do Flamengo, a construção também concederá à cidade um novo ícone esportivo, promovendo um aumento na movimentação econômica e cultural do espaço.
Apesar disso, especialistas apontam que a construção de um campo de futebol naquela região, onde ficam o Terminal Intermodal Gentileza, a Rodoviária do Rio e os acessos da Ponte Rio-Niterói, intensificaria o trânsito já sobrecarregado na região.
Para o professor Ronaldo Balassiano, do programa de Engenharia de Transportes da Coppe/UFRJ, a mobilidade urbana será um dos pontos cruciais na implementação do projeto. “É preciso planejar como fica a mobilidade na região, que hoje já é ruim. Um jogo no fim de semana é mais tranquilo, mas em dias de semana vai criar uma demanda além da normal para a cidade.”
O novo estádio é mais uma iniciativa da prefeitura do Rio de Janeiro para revitalizar a região da Avenida Francisco Bicalho, onde ficam ainda a antiga Estação Ferroviária da Leopoldina — que será recuperada e ganhará um conjunto habitacional, um centro de convenção e uma segunda Cidade do Samba — e o terreno do Clube dos Portuários, que foi demolido para dar lugar a um empreendimento privado, muito provavelmente residencial como outros na região.
Em artigo para o Jornal O Globo, o prefeito Eduardo Paes afirmou que o futebol hoje é muito mais do que um esporte que move paixões, o futebol hoje é um motor para a economia no Brasil. Segundo ele, “Estudos da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Econômico mostram que o Flamengo foi responsável por mais da metade dos R$3,96 bilhões de impacto econômico do futebol na cidade em 2023. Estudos preliminares apontam que, com o novo estádio, o clube, sozinho, poderia representar um impacto de R$3 bilhões.”
Sobre os impactos viários e mobilidade na região central da cidade, Eduardo Paes afirma que a construção do novo estádio do Flamengo efetivaria mais um elemento chave na revitalização da região portuária. “Ele deve ser mais que um estádio: um complexo multifuncional que inclua espaço para eventos e áreas de convivência, alinhado ao desenvolvimento urbano sustentável da região. O Projeto também deve levar em conta o impacto na mobilidade urbana. Não à toa construímos ali o terminal Gentileza e o Flamengo já se mostrou comprometido em colaborar com melhorias viárias, reformulação dos passeios públicos e do sistema de transporte. Também pretendemos expandir o VLT até as estações da Leopoldina e São Cristóvão, facilitando a conexão com trem e metrô”.
O que pensam os torcedores do Flamengo em relação a essa nova logística e deslocamento até a sua nova casa
Em uma pesquisa criada para essa reportagem, cerca de 100 torcedores do Flamengo, residentes no Rio de Janeiro ou não declararam que têm a intenção de frequentar os jogos do seu time no novo estádio. Para 58,3% desses torcedores, haverá mudança na maneira como chegam aos jogos no Maracanã. Porém, apenas para apenas 25% deles há a intenção de utilizar o terminal Gentileza, como pensa a prefeitura do Rio.
Para Flavio de Oliveira, 52 anos, o estádio do Maracanã oferece muita comodidade, mas nada que o torcedor não possa se adaptar com apoio dos órgãos responsáveis. “A localização do Maracanã é única. Estações de trem e de metrô, bares nas proximidades da grande Tijuca, não acredito que no novo estádio será igual. Mas acredito na adaptação de nós torcedores, da diretoria do Flamengo e da prefeitura e dos responsáveis pelo planejamento de trânsito em dias de jogos”.
A construção do novo estádio do Flamengo na Zona Portuária do Rio de Janeiro representa um marco não apenas para o clube, mas para toda a cidade. A revitalização da área, que já vinha ganhando novos ares com projetos como o Porto Maravilha e a instalação do VLT, agora se fortalece com a expectativa de um novo ícone esportivo e cultural. Para 100% dos torcedores que participaram da pesquisa para essa reportagem, o novo estádio trará muitos benefícios para a economia local da Zona Portuária.
Contudo, o desafio de integrar esse grande empreendimento à malha urbana já existente da cidade não pode ser subestimado. A mobilidade na região, já saturada em dias úteis, é um ponto de atenção crucial e a pesquisa realizada junto aos torcedores do Flamengo reflete essa preocupação. Hoje, a estimativa é que mais de 150 mil pessoas passem diariamente pelo Terminal Intermodal Gentileza, mostrando que a adaptação às novas condições de acesso ao estádio na região será necessária, tanto por parte dos frequentadores quanto das autoridades responsáveis.