O Brasil recebeu muitos shows internacionais em 2023, mas a maioria se concentra apenas no eixo Rio-São Paulo, trazendo desafios para fãs que moram longe.
Por Maria Luísa Pimenta
Assistir ao show ao vivo de um artista que se admira é uma experiência sonhada por qualquer fã. Porém, a barreira geográfica pode ser um empecilho. Desde o fim da pandemia da Covid-19, o Brasil passou a receber muitos shows, incluindo de artistas internacionais. O problema é que, principalmente no caso dos estrangeiros, as apresentações se concentram em poucos estados, com destaque para São Paulo e Rio de Janeiro.
Com isso, pessoas que vivem em outras partes do país acabam perdendo a oportunidade de assistir seu ídolo em cima do palco. Por outro lado, existem aqueles fãs que decidem superar o obstáculo da distância e embarcar em uma verdadeira jornada. Seja botando o pé na estrada ou entrando a bordo de um avião, não são poucas as pessoas que decidem viajar para assistir seu ídolo em outro canto do país.
2023 teve muitos shows, mas em poucas cidades
O ano de 2023 foi marcado por uma sequência de grandes shows internacionais. Coldplay, Paramore, Taylor Swift, RBD, Paul McCartney, The Weeknd, Bruno Mars, Red Hot Chilli Peppers e tantos outros artistas vieram para o Brasil para realizar grandes apresentações, sejam únicas ou em festivais.
Com tantos eventos, a expectativa é de que, em 2023, o número de shows no Brasil aumente 29% em relação a 2022, de acordo com levantamento realizado pela PWC Brasil. Trata-se de uma tendência que vem crescendo desde o fim da pandemia da Covid-19, quando os shows com grande público voltaram a ser permitidos.
Porém, a maioria dos artistas internacionais que pisaram em solo brasileiro não fugiram muito do eixo Rio-São Paulo. Isso significa que, enquanto a maior parte do Brasil não recebe grandes eventos de artistas que vêm de outros países, duas capitais concentram vários shows, até mesmo em sequência.
Apenas no mês de novembro, o Estádio Nilton Santos, no Rio de Janeiro, recebeu três shows com alta procura pelo público em três finais de semana seguidos: a banda Red Hot Chilli Peppers, no dia 4, a banda RBD, nos dias 9 e 10, e a cantora Taylor Swift, nos dias 17, 19 e 20. No mês anterior, já havia recebido The Weeknd e Roger Waters.
A chance de assistir seu ídolo
Vitória Oliveira, de 22 anos, mora em João Pessoa, na Paraíba. A estudante de letras conta que, desde pequena, sempre sonhou em assistir aos shows dos seus artistas preferidos. Porém, nunca conseguiu realizar esses desejos já que seus ídolos nunca fizeram shows no local onde mora. “Era sempre um misto de sensações: ficava muito feliz de ver meus cantores favoritos anunciando que vinham para o Brasil, mas ficava triste porque nunca teria a oportunidade de assistir a um show”, disse.
Neste ano, porém, Vitória decidiu arriscar. Quando soube que Taylor Swift tinha marcado shows no Brasil, pensou que essa era a oportunidade perfeita de viajar para outro estado e assistir a uma apresentação internacional pela primeira vez. “Assim que ela anunciou, eu comecei a me planejar. Nem acreditei quando vi que realmente consegui comprar o ingresso! Fiquei muito feliz e consegui convencer duas amigas a irem comigo”, disse.
Depois de muitos meses de ansiedade e planejamento, as três pegaram um voo de 3 horas de duração rumo ao Rio de Janeiro para assistir ao show. “Foi a melhor experiência que já tive! Nunca tinha ido a um show internacional antes e fiquei ainda mais feliz por ter sido uma cantora que eu acompanho desde pequena. É até difícil descrever todas as emoções que senti”, revelou.
Além de um show
Para muitas pessoas, assistir ao show de um artista vai além do entretenimento. A música é capaz de marcar as mais diferentes etapas da vida. Para alguém acostumado a ouvir as canções do seu artista favorito todos os dias, as canções tornam-se ainda mais especiais.
Segundo o psicólogo Lucas Oliveira, isso cria uma conexão entre fã e artista. “É comum associarmos a música a determinados momentos das nossas vidas. Por isso, é muito comum que uma pessoa veja seu artista preferido como uma pessoa próxima. Quando ele canta, está de certa forma conversando sobre seus sentimentos. Além disso, está ali em várias ocasiões diferentes, seja nos momentos bons ou ruins”, explica.
Assim, a experiência de ver as músicas que tanto marcaram a sua vida sendo cantadas ao vivo por um artista que se admira pode ser algo muito mais profundo do que apenas um momento de diversão. Isso explica por que tantas pessoas se aventuram para assistir seus ídolos em lugares distantes. Vitória realizou o seu trajeto de João Pessoa para o Rio de Janeiro de avião, mas muitos fãs chegam a passar dias na estrada até chegar ao local do show.
Segundo Vitória, todos os perrengues valeram a pena. “Não vou negar: tive vários problemas pelo caminho. Demorei para conseguir as passagens e para achar um local para se hospedar que fosse bom e perto do local do show. Também tive alguns probleminhas no aeroporto e ainda por cima me perdi assim que cheguei no Rio de Janeiro, demorei um tempão até me localizar e achar meu hotel. Mas no fim das contas, deu tudo certo!”, afirmou. “Foram muitos perrengues, mas eu não pensaria duas vezes em fazer tudo de novo!”, confessou.
Shows também impactam a economia local
A grande quantidade de shows internacionais traz impactos para a cidade que recebe esses eventos. Um dos impactos indiretos que esses eventos proporcionam é o impulsionamento do setor hoteleiro. Os grandes shows de artistas estrangeiros acabam atraindo pessoas de diferentes partes do país, que se locomovem até a cidade onde a apresentação acontecerá.
O vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), Fernando Guinato, revelou em entrevista à CNN que os grandes eventos acontecendo no Brasil influenciam na procura por hotéis. Um dos períodos mais lucrativos em São Paulo foi o mês de março. “Foi excepcional por conta do show do Coldplay e depois pelo Lollapalooza, onde muitos hotéis tiveram ocupação muito próxima de 100%”, revelou.
Em 2024, São Paulo receberá mais uma edição do festival Lollapalooza, que acontecerá no mês de março. Já o Rio de Janeiro sediará mais uma edição do Rock In Rio, em setembro. Esses eventos também devem impactar o turismo das duas cidades, atraindo pessoas de todos os cantos do Brasil.