Por Maria Eduarda Cunha
Uma pesquisa do Datafolha de agosto de 2023 mostra que 65% dos brasileiros dizem se interessar por futebol feminino, no entanto, não vemos essa porcentagem ser convertida em investimentos e incentivos a jovens meninas que amam o esporte. Essa realidade, somada a um contexto social ainda muito preconceituoso, é responsável por privar muitas jovens do contato com o esporte durante a infância e adolescência. Nesse cenário, muitas meninas encontram no esporte universitário um espaço para viver seus sonhos.
Amor pelo futebol e obstáculos
Larissa Reis, graduanda em Arquivologia e atleta do time de futsal da Atlética de Artes e Comunicação Social da UFF (AACS), sempre gostou e jogou futebol e manteve a prática do futsal na faculdade. Ela conta que durante sua infância não existiam escolinhas femininas e que o esporte era majoritariamente masculino, o que isso causou certa resistência em seus pais. Mas que após muita insistência eles permitiram que ela praticasse.
Além da falta de oportunidades em escolinhas e clubes, as meninas que querem jogar futebol ainda precisam lidar com comentários e opiniões preconceituosas. A misoginia, sexismo e comentários LGBTfóbicos infelizmente atingem essas jovens e uma grande parte opta por se afastar do esporte. “Acho que toda mulher que joga futebol passa por isso em algum momento, infelizmente.” diz Larissa.
Jéssica Perdigó, jornalista formada pela UFF, já jogou nos times de vôlei e handebol da AACS, mas o futebol é sua maior paixão desde a infância e, mesmo formada, segue atuando no time de futsal da atlética. Na infância escutou muitos comentários sobre o esporte ser “coisa de menino” e que iria fazer com que ela ficasse mais “masculina”. Mas na faculdade, Jéssica conta que não sofreu nenhum preconceito ou resistência. “Acho que o esporte era uma diversão tão grande para mim que independente de qualquer coisa eu não deixava de fazer, mas sei que isso afeta muitas meninas, ainda mais em uma idade de descoberta e formação de identidade.”
O futsal universitário
O esporte universitário para muitas meninas é a primeira chance de praticar futebol dignamente, e mesmo para aquelas que já possuem relação com o esporte, é um espaço acolhedor e importante. Larissa diz que no time de futsal sempre chega uma menina que nunca praticou o esporte por ter sido condicionada a procurar outras atividades durante a infância.
Fora das quadras, o time também é um lugar de pertencimento, onde várias relações de amizade e companheirismo são formadas. Jéssica conta que conheceu uma de suas melhores amigas no time, e que as meninas estão sempre saindo juntas, indicando estágios e apoiando umas as outras durante momentos delicados. “É um espaço muito legal de troca verdadeira para além do esporte”, completa.
Vivências do time e limitações
Uma vez ao ano o time participa do JUCS (Jogos Universitários de Comunicação Social), a principal competição da AACS, organizado e divulgado pela própria atlética. E ao longo do ano, participa de outras competições mobilizadas pelas próprias atletas. Para Jéssica, é uma experiência única: “A gente consegue sentir a adrenalina do esporte, tem o adversário, a torcida, a parte técnica. É a hora de colocar em prática tudo que a gente treinou.”
Ela também conta que a AACS apoia o time dentro das possibilidades de uma atlética, mas que muitas vezes as próprias atletas precisam se organizar para arrecadar fundos através de rifas e “vaquinhas”. “Acredito que esse apoio deveria vir da faculdade, Infelizmente não há um programa de desenvolvimento do esporte Universitário na UFF”, compartilha Jéssica..
Ao olharmos para o futuro do esporte universitário feminino, aguardamos por um maior incentivo através de bolsas e infraestrutura. E no cenário nacional, precisamos que o esporte feminino receba mais investimento e reconhecimento, superando esses preconceitos antiquados. Segundo Larissa, é preciso dar visibilidade para as grandes atletas, pois elas servem de espelho para meninas mais novas. E Jéssica complementa,“elas precisam olhar para o esporte e ver um futuro naquele ambiente.”