Empresas jornalísticas usam o TikTok para produzir conteúdo noticioso de maneira concisa e criativa

Por Catarina Brener

Conhecida pelas famosas dancinhas e dublagens, a plataforma chinesa Tik Tok, criada em 2014, se popularizou na pandemia do Covid-19 pelos conteúdos leves e divertidos. Mas muitas empresas jornalísticas viram na rede social uma oportunidade para atingir um grande número de pessoas. Hoje, vários perfis de imprensa já estão na plataforma e traçam estratégias para entregar um jornalismo de qualidade.

De acordo com o relatório Digital News Report 2022, quase dois terços dos brasileiros (64%) recebem suas notícias por meio das redes sociais, usando uma ampla variedade de plataformas. Enquanto o Youtube (43%) é a rede mais popular para consumo de notícias, o Instagram (35%) e o TikTok (12%) são as que mais crescem. 

Porcentagem do consumo de notícias nas redes sociais e nos aplicativos de mensagem.- Digital News Report – 2022

A pesquisa mostrou ainda que o uso do TikTok para o consumo de notícias aumentou cinco vezes entre as pessoas de 18 a 24 anos. Além disso, outra transformação identificada foi a utilização das redes sociais como a principal fonte de informação para esse público, substituindo os sites de notícias. 

Mesmo que as redes sociais visem o entretenimento como produto principal, a perspectiva de expansão do alcance e da audiência já chama atenção de veículos de comunicação para produzirem conteúdos em outros formatos. 

Aumento do número de consumo de notícias pelo Tik Tok – Digital News Report – 2022

O consumo de conteúdo no TikTok pode ser realizado de duas formas: através da aba “seguindo”, onde aparecem só os conteúdos que o utilizador já segue; ou a aba “para você”, onde o algoritmo da plataforma mostra conteúdos que se assemelham aos interesses do usuário. Com essa segunda opção, um conteúdo noticioso pode impactar alguém que não necessariamente se interesse pelo veículo, mas sim pelo conteúdo do vídeo. Esse modelo se apresentou como uma ferramenta útil para os meios de comunicação disseminarem informação.

O gerente de comunicação e criação de conteúdo da Alma Preta, Ajor Iacy Correia, comenta sobre essa oportunidade do jornalismo alcançar mais gente por conta da plataforma. 

“Atualmente, o TikTok conta mais de 1 bilhão de usuários ativos, sendo 32,5% jovens entre 10 e 19 anos, e está ampliando o público de 25 a 45 anos, o que para nós é uma oportunidade de aumentar a distribuição dos nossos conteúdos e conquistar novos públicos”, contou Ïacy à Associação de Jornalismo Digital.

Para alcançar novas pessoas, é importante saber como atingi-las. Conhecer os formatos e a linguagem da plataforma é fundamental: “Diferentemente do Instagram ou do Facebook, com postagens que se baseiam principalmente em fotos e textos e com visualizações automáticas, no Tiktok não existe feed e a única forma de conteúdo é em vídeo. Para isso, o conteúdo deve ser criativo,  rápido, impactante e descontraído em sua abordagem”, ele completa.

O TikTok acaba se apresentando como uma plataforma altamente visual e dependente da criatividade do usuário para se obter um bom engajamento. Assim, os jornais, principalmente, estrangeiros, como The Washington Post, começaram a utilizar esse recurso como um estimulante que cativa os espectadores. 

Victoria Correia, Analista de Marketing, comenta que começou a consumir muitas notícias dos Estados Unidos por conta do The Washington Post. 

“Quando entrei no TikTok, eu só queria viralizar com minhas dancinhas. Não esperava ser atingida por um jornal, até o TWP aparecer e eu ficar encantada pela criatividade. Lembro até hoje que era um vídeo sobre o Lula ganhando a eleição presidencial em 2022. Depois disso, não parei de acompanhar”, comenta. 

Mesmo com um ar teatral, jornais do exterior conseguem entregar conteúdos relevantes e de acordo com a linguagem da plataforma. Veículos como The Washington Post e NBC News já têm uma equipe que se especializa apenas em TikTok. No Brasil, o Estadão e a Folha de São Paulo também investiram em um formato diferenciado. 

Para o jornalista João Abel, do Estadão, o tráfego gerado pela rede ainda é tímido.

“Após observar o crescimento da plataforma em 2019, nós tomamos a decisão de entrar na rede e começar a testar novos formatos. Mas nunca foi uma rede que gerou muito tráfego pra gente, então postamos sempre algo que já esteja no site. Porque, caso isso não aconteça, vamos virar quase que uma redação à parte.”

Dessa forma, o conteúdo do Estadão e da maioria dos jornais brasileiros acaba apenas reproduzindo conteúdos adaptados para o modelo do Tik Tok, diferentemente dos jornais do exterior, que focam e possuem um time especializado para a rede. 

Outra conta que tem relevância no cenário do jornalismo nacional é a da Agência Lupa. Ela recebeu o prêmio TikTok Awards 2022, na categoria TikTok For Good, pela contribuição no combate à desinformação e pela produção de educação midiática dentro da plataforma. Desde julho, a agência conta com publicações “inovadoras para atrair a atenção e distribuir diferentes conteúdos de forma mais eficiente”, comenta Nathália Afonso, analista de projetos editoriais da Lupa.

Utilizar a criatividade e entender os algoritmos da plataforma se mostraram essenciais para o conteúdo jornalístico ter relevância. Os jornais nacionais estão atentos a isso e enxergam um futuro próspero no TikTok.

“Os jornais começaram a investir mais em conteúdos de vídeo. Eu mesmo saí do time de redes do Estadão, recentemente, para ficar no time de vídeos. Eles sabem  a força desse tipo de conteúdo e estão direcionando esforços para isso”, afirma João Abel.  

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