Por Maria Luiza Alves Figueiredo

Assim como a Carolina da música de Seu Jorge, Carolina Maria de Jesus é uma mulher difícil de esquecer. Mulher negra, periférica, mãe solo de três filhos e por muitos anos catadora de papel, Carolina encontrou na escrita mais um meio de enfrentar a realidade difícil e conturbada da vida. 

Ser uma “Carolina” na década de 30 – e talvez até hoje – era ter a certeza de que não importa o quão talentosa você seja, nem o quanto você sonha e batalha por uma vida melhor. O sistema te dá ínfimas chances de sucesso, e não garante um “felizes para sempre” caso você o alcance.

 Com muito talento, força, resistência e um pouco de acaso, Carolina alcançou o que lhe tinha sido negado durante toda a sua vida: a visibilidade e principalmente a dignidade. Sair da casa feita de madeira e papelão, onde viveu por anos lutando para conseguir comida e roupas para si e para seus filhos, foi com certeza um dos principais momentos onde a vida da escritora mudou.

 Não ter que se preocupar incessantemente com a possibilidade de não ter o que comer na próxima refeição foi um sinal de dignidade atingido por Carolina, mas que não lhe foi garantido até o fim da vida.

 Mais uma vez, o sistema se manteve firme, fazendo com que depois de algum tempo após o lançamento de seu primeiro livro, Carolina voltasse a sua posição inicial de catadora de papel.  Apesar do esforço, a sociedade preconceituosa e classista não foi capaz de apagar seu legado de força e resistência, conhecidos mundo afora. 

Celebrar e relembrar Carolina Maria de Jesus é ter a certeza da força e do talento que mulheres negras possuem, e se sentir cada vez mais envergonhada da sociedade racista e misógina que impede que mais “Carolinas” vençam, e se mantenham no topo.

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