Por Luís Felipe Granado
“Por trás de todo grande homem, há sempre uma grande mulher”. Mas, porque não na
frente? O que falta para termos uma ministra negra encabeçando a lista de indicados ao
Supremo Tribunal Federal?
Com a aposentadoria da ministra Rosa Weber, o presidente Lula precisa nomear um magistrado com reputação ilibada e notório saber jurídico para a vaga, segundo determina a Constituição. A carta, no entanto, não pede que seja uma pessoa branca. Inclusive, há alguns motivos para que desta vez não seja.
O primeiro deles, o ineditismo: Desde que o STF existe, há 132 anos, nunca houve uma
mulher negra na Suprema Corte. O segundo: representatividade: Mais de 28% da população se declara mulher e preta Atualmente, o STF é composto por 9 homens e uma
mulher (branca). O terceiro, e motivo da crônica, o timing: No dia 20 de novembro é Dia da
Consciência Negra.
A data é lembrada por ter sido o dia em que o Zumbi dos Palmares foi capturado e morto.
Mas, no 20o ano da efeméride, os olhos deveriam se voltar para Dandara dos Palmares, sua esposa, que também foi capturada e se suicidou por preferir morrer em liberdade do que voltar a ser escrava.
Sem perfil para cuidadora, a guerreira palmarina acreditava que conquistaria a liberdade
para todos através da luta. Por mais que tenha vivido há mais de quatro séculos, tinha um
ideal de Justiça aguçado até para os padrões de hoje. Era uma mulher à frente do seu
tempo e isso possibilitou que ela comandasse o maior quilombo da América Latina.
Mesmo tendo, por vezes, mais ambição que o próprio Zumbi, ela ainda não tem o
reconhecimento merecido e é lembrada quase como lenda. Se vivesse nos dias de hoje,
ficaria decepcionada.
Quando 83% das vítimas fatais de ações policiais têm pele negra; quando três vezes mais
pessoas pretas estão na linha da pobreza se comparado aos brancos; quando a taxa de
analfabetismo é o dobro entre pretos comparada a dos brancos; quando casos de injúria
crescem 43% em um ano.. Não há momento mais urgente do que hoje para começar a
mudança. E ela passa pelo STF.
Lula tem nas mãos a oportunidade de dar um novo sentido à data, homenageando não só
Dandara, mas todas as mulheres pretas brasileiras. Pensando nisso, o coletivo Mulheres
Negras Decidem listou juristas pretas e lançou a campanha #MinistraNegraJá (Conheça).